Barbalha é uma cidade que desperta com o cheiro do orvalho e o som dos galos anunciando o início de mais um dia. Mas, em junho, algo mágico acontece. A cidade se transforma em um mosaico de cores, sons e tradições que remontam há séculos: é a Festa de Santo Antônio, padroeiro da cidade e conhecido por seus milagres e devoção popular.
Tudo começa muito antes do raiar do dia, quando os moradores se reúnem na Praça da Matriz. Homens robustos, os carregadores do pau da bandeira, já estão preparados para uma das maiores honras que a festa oferece. Eles irão buscar o mastro, uma enorme árvore cortada na serra do Araripe, que será erguido em homenagem ao santo.
O cortejo é algo impressionante. O mastro, ornamentado com fitas coloridas e bandeiras, é carregado nos ombros dos homens pelas ruas estreitas da cidade. A multidão acompanha com fervor, aplaudindo e cantando. As crianças correm ao lado, tentando tocar o mastro para ter um ano de sorte. As mulheres, em seus vestidos floridos, lançam pétalas de flores, perfumando o ar com um aroma doce e nostálgico.
Ao longo do caminho, bandas de pífanos e zabumbas tocam músicas tradicionais, criando uma atmosfera festiva e contagiante. Não há como não ser envolvido pela energia que emana daquelas pessoas. Todos, de alguma forma, participam e colaboram para que a festa seja um sucesso. É uma celebração de fé, mas também de comunidade e de identidade cultural.
Chegando à Igreja Matriz de Santo Antônio, o mastro é erguido com esforço e devoção. Quando finalmente está de pé, todos aplaudem e comemoram, sabendo que aquilo é mais do que um ritual. É uma demonstração de fé coletiva e de resistência cultural. É um momento que une a cidade em torno de um objetivo comum, fortalecendo os laços entre os moradores.
À noite, a festa continua com quermesses e fogueiras que iluminam o céu. As ruas se enchem de barracas de comidas típicas, onde o cheiro de pamonha, milho assado e bolo de macaxeira mistura-se com o de quentão e licor. As pessoas dançam quadrilhas e forrós até o amanhecer, celebrando não apenas Santo Antônio, mas também a vida e a união que essa festa proporciona.
E assim, todos os anos, Barbalha renova sua fé e suas tradições. A Festa de Santo Antônio não é apenas um evento, mas uma declaração de amor à cultura e à história. É um momento em que o passado e o presente se encontram, e a devoção ao santo padroeiro se transforma em um grande espetáculo de alegria e fé.
Para quem vive em Barbalha, a Festa de Santo Antônio é mais do que uma celebração religiosa. É uma expressão de quem são, de onde vêm e de como, juntos, constroem um futuro sustentado na força das tradições. É a alma de uma cidade que, ano após ano, renasce ao som dos tambores e ao brilho das fogueiras, sempre sob a proteção de Santo Antônio.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este texto é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri