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A praga de Matozinho – Por J. Flávio Vieira

Colunista escreve semanalmente no Revista Cariri

30 de agosto de 2020
A praga de Matozinho – Por J. Flávio Vieira
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As notícias em Matozinho nunca chegavam a vista, sempre em módicas prestações mensais. Isolada do mundo, a vila necessitava das alvíssaras, caindo pingo a pingo, como numa destalaria, dos tropeiros, dos galegos, dos mascates. Nos tempos da peste, ainda não tinham chegado novidades de rádio, nem de telégrafo. O suicídio de Getúlio só foi pranteado uns cinco anos depois do ocorrido; a derrota do Brasil, na Copa de 50, nem causou sobrosso: aportou com a notícia da vitória de 1958, aí pela metade da década de sessenta. Os mascates, assim, carregavam uma dupla função. Sortiam o comércio local e, junto, num jornalismo pronto e informal, abasteciam de novidades , Matozinho. Claro que, como bons profissionais de mídia, os galegos carregavam nas tintas, temperavam as estórias com pitadas de exagero e surrealismo, tornando-as mais palatáveis e sensacionais.

Assim, na vila, a praga chegou primeiro que a notícia e pegou todo mundo meio de contrapé. Acredita-se que, por ironia, teria sido Afonso, também conhecido como Fon-Fon de Sumé, o caso zero de Matozinho. Chegara na noite anterior, já meio capiongo e despombalizado, tangendo os burros carregados de quinquilharias. Hospedou-se, como sempre o fazia, na Pensão de D. Quinô. Queixou-se de uma quebradeira no corpo, de uma tosse de cachorro entalado e de um estalecido que o vinha incomodando há uns três dias, desde a saída de Serrinha dos Nicodemos. O certo é que naquela noite Fon-fon tomou apenas um caldo de mocotó. Conforme o depoimento de D. Quinô: ele dormiu como um anjo e acordou também como um. Quando abriu os olhos tava morto!

A partir daquele dia, os casos começaram a pipocar em Matozinho. O marido de D. Quinô seguiu na mesma caravana de Fon-Fon, uma semana depois. Padre Arcelino caiu doente e esteve com a jumenta amarrada na porta, com a bagagem pronta, por mais de uma quinzena. Com uma semana já se contavam mais de cinquenta matozenses enfiados nas redes e cerca de mais de quinze que tinham ensebado o capim.

As boticas da cidade não davam vencimento aos atendimentos, as rezadeiras estavam roucas de puxar orações. Janjão da Botica tinha feito já calo nos dedos de tanto aplicar sanguessuga na clientela, para depurar o sangue dos enfermos. E quem matou a charada, foi Juvenal Tiburtino, um outro mascate, amigo de Fon-Fon, vindo da capital que estava empestada daquela mesma maleita: aquilo era uma tal de Carona, uma praga das estranjas e que estava matando gente, como gôgo em poleiro de galinha. Juvenal teve apenas o tempo de dizer aquilo e já dá meia volta, às carreiras: Vôte! Pernas pra que vos quero! O diabo é quem fica aqui!

Matozinho entrou em pânico. Como combater um inimigo que ninguém via, nem conhecia? Bicho cabuloso, esquisito que vivia mais escondido que quenga de beato. Quem tinha alguma condição seguiu no rastro de Juvenal. Uns para fazendas, outros para outras paragens. As rodinhas de praça desapareceram. As pessoas se enfiaram dentro de casa e olhavam o mundo pelo buraco da fechadura. O comércio fechou, a igreja bateu as portas, a escolinha de D. Escolástica dispensou os alunos. Só ficaram ainda com algum movimento as atividades mais que essenciais: as bodegas, as boticas, os bares, o cabaré. E, a mais essencial de todas, a “Funerária Dessapramelhor” de Sebasto Rasga-Mortalha que, com o passar dos dias, começou a ter dificuldades de manter o estoque, devido à procura excessiva dos envelopes necessários à postagem derradeira.

O prefeito Sinderval Bandalheira, diante da doideira do povo, fez vista grossa. Começou por designar a epidemia de Defruxo-17, coincidentemente o 17 era o número eleitoral do partido adversário de Sinderval. Avisou que aquilo era um estalecido veio safado. Que ninguém fizesse corpo mole , fosse trabalhar, deixasse de covardia. Tinha falado com um cientista de Bertioga, cabra levantador de espinhela caída, tirador de quebranto e olho-gordo e até desengasgador de espinha de peixe. Ele dera a receita tiro-e-queda para o Defruxo-17: chá de jalapa três vezes ao dia. O chá reverberou nas orelhas de Janjão da Botica, como música de rabeca. Ele tinha um estoque imenso, comprado, vejam só vocês, do maior fornecedor local da raizada: a fazenda de um sujeito chamado Sinderval. Coincidências acontecem nessa vida.

O que parecia um simples surto, no entanto, começou a se alastrar. O prefeito viu-se pressionado de vários lados, como pé de milho em roça com maracanã. Precisou distribuir, com enorme contragosto, o dinheiro público, que ele tinha como seu, sob pressão de uma horda de famintos que ameaçava saquear a cidade. Uma cunhada sua caiu doente, pegou uma tisga danada, um puxado infeliz e, empanturrada de jalapa, fez o check-in com São Pedro em pouco dias. Sinderval resolveu, então, dividir o ônus da calamidade e contratou um Secretário de Saúde. Janjão imaginou que seria o candidato natural ao cargo. Qual não foi sua surpresa quando viu a nomeação do Cabo Albertino, conhecido por todos como Cabo Tino, para a função. Como justificativa, Sinderval afirmou: aquilo era uma guerra e para tanto convocara um general para comandar as tropas contra o inimigo feroz, o Defruxo-17: Cabo Tino!

Defronte da prefeitura, um Tino, investido em ares bélicos, à Duque de Caxias, fez sua ordem do dia para uma plateia escassa de funcionários:

— Povo de Matozinho! Estamos em guerra! Desde este momento tô fazendo campana! Este tá de Defluxo vai ver com quantas tariscas se faz uma arapuca! Defluxo! 17 é macaco! Pois agora você vai enfrentar o King Kong, seu filho de uma Ronca e Fuça! Se aprepare! Quem já foi domador de circo, como eu, enfrentou manada de caititu em carrasco, vai lá ter medo de um bicho véi miúdo e melenguento? Preparar, apontar, fogo!

E mostrando as mãos teatralmente, perorou:

— Se eu te pego, Defruxo, com esses dez dedos aqui, tu bota a língua de fora e chama mamãe!

Nos dias seguintes, já cedinho, o agora marechal espalhou, pelas vielas de Matozinho, potes e jarras cheias de chá de jalapa e obrigava a quem passasse na rua a tomar uma talagada. Quem se recusasse a tomar a beberagem ia preso. Semanas depois, vindo do sitiozinho onde morava, a pé, deu com uma raposa raivosa, na estrada, que o atacou, sem piedade e o teria matado, não fosse a ajuda dos cachorros da vizinhança.

No outro dia do atentado, lanhado como se tivesse caído numa betoneira, estirado na cama, coberto de gaze, só os olhos de fora, ouviu quando o soldado Jeremias, que quase tinha batido as botas, recentemente, quando pegara o Defluxo, comentou com os colegas na porta de casa:

— Tarzan não aguentou nem uma raposa vindo de proa? Avali quando encontrar o 17, por aí! Vai ficar mais rachado que salário de assessor parlamentar!

Por J. Flávio Vieira, médico e escritor

*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri

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