A lente permanece suja. A máquina fotografa com manchas a realidade e o fotógrafo se ilude, acreditando que elas realmente estão impregnadas na paisagem. É quente para um café. Melhor seria um banho frio e rever as fotos do tempo em que não saia sozinho na rua, por não ter noção e nem tamanho suficiente para encarar os perigos que assombram a vida dos adultos.
A máquina quebra de tanto insistir em olhar. O fotógrafo agora é poeta, escreve com danação. Cria imagens, suja o texto, destrói as lentes, grita, faz mistério, arrota porque não quer incômodos presos, liberta os seus desejos. Escreve sobre as fotografias queimadas e as verdadeiramente mentirosas. Finge que não é com ele a história que conta e mente sobre a história que quer.
O poeta triturou a máquina em versos e fotografou a dor banhada de poesia.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri