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A mão do Dr. Lyrio – Por J. Flávio Vieira

Colunista escreve semanalmente no Revista Cariri

16 de maio de 2021
A nova bebida vem da Bebida Nova – Por J. Flávio Vieira
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Nestes dias, enquanto preparava uma aula para novos estudantes de Medicina da UFCA, caiu em minhas mãos a mais aristocrática cidade do Cariri: Barbalha. E foi como se as águas do Rio Salamanca me tivessem trazido de volta dois personagens míticos da Terra dos Canaviais. É que os movimentos da memória vêm em ondas como o mar. Marcos de uma época, seus destinos se cruzaram e foi como se do atrito entre dois seixos tivesse saltado a centelha que, anos depois, me veio iluminar aquele momento.

Antonio Lyrio Callou nasceu em 1902, no doce balanço dos canaviais de sua terra. Estudou em Barbalha e Crato, formando-se no Rio de Janeiro, em Medicina, em 1930. Voltou ao Cariri trazendo sua arte para oferecer à sua tribo. Fez-se um dos mais empedernidos combatentes de uma das nossas mais terríveis endemias: o tracoma. Querido e amado pelo seu povo, viu-se na necessidade de enveredar pela política, com quem teve que partilhar suas atenções por mais de meio século. Fez-se prefeito da sua cidade por dez anos ininterruptos e vereador por cinco legislaturas. Conheci-o quando iniciei minha vida profissional no Cariri. Ele já octogenário, mas vívido e ainda atuante. Fisicamente pareceu-me lépido, alegre, conversador. Queridíssimo de toda a população que o acolhia quase que como uma divindade e nem se dava conta que algumas das peças do quebra-cabeças do seu intelecto já não se encaixavam tão bem. Dr. Lyrio era uma das últimas gerações de médicos que poderiam ser designados como “Da Família”. Era um membro universal de incontáveis famílias caririenses que o recebiam no seu seio como a um irmão ou um primo estimado e que se valiam dele não apenas para o tratamento médico convencional, mas como conselheiro, mentor, como amigo, banco, como orientador e ombro amigo em todas as necessidades vitais. Quando, aos 92 anos, ele completou sua trajetória pelo Cariri, deixou um rastro de saudade e desapontamento impossível de se quantificar e levou, também, consigo uma parte expressiva da história da Medicina caririense, aquela com profundas raízes humanísticas, quando o manto de Hipócrates ainda não tinha sido substituído pelo paletó de almofadinha e pela gravata vermelha.

Um outro barbalhense da gema, Huygens Garcia, pai de um dos maiores cirurgiões cearenses que leva o seu nome, um dia me contou essa história. Seu Huygens foi agricultor e pecuarista, mas poderia ter tido a profissão que quisesse. Inteligentíssimo, letrado, estudioso, amante da leitura, faltou-lhe, talvez, o apoio necessário para alçar voo. Mas terminou realizando sua vocação numa plêiade de filhos: todos formados, desarnados como ele, inteligentes, éticos e trabalhadores. Ele tinha uma verdadeira adoração por Dr. Lyrio e gostava de contar a causa. No início dos anos 30, aos oito anos, jogando bola com os colegas, na rua, caiu e fraturou o braço. Uma dor intensa invadiu-lhe a alma , um pouco pela quebradura, mas principalmente pelo medo. Seu pai era extremamente rígido, mantinha em casa uma educação quase militar. Tinha certeza que, voltando à casa, ferido como estava, antes de ser levado para o atendimento, seria contemplado com o corretivo de praxe: uma surra monumental. Angustiado, correu, teve a ideia de procurar, por conta própria, o consultório do Dr. Lyrio, ali pertinho. O médico, numa Barbalha ainda pequena e provinciana, conhecia toda a população. Chorando, sentou na sala de espera, enquanto aguardava, aflito, a chegada do salvador. A sala estava repleta de clientes, todos com seus achaques e suas esperanças. Um pouco depois, ao entrar, Dr.Lyrio deu, rapidamente, notícia dele e perguntou com voz mansa, enquanto já o examinava ali mesmo na saleta: O que foi, Huiginho? Quando o menino explicou, soluçando, que tinha caído, ele colocou a mão na cabeça do guri e o encaminhou ao consultório, onde, cuidadosamente, colocou a tala gessada e imobilizou a fratura. Terminado o trabalho, Dr. Lyrio o abraçou e o levou até a casa da criança, mesmo sabendo da quantidade de consultas que ainda o aguardavam, na volta. Em lá chegando, acompanhado de tamanho pistolão, o menino pareceu mais tranquilo. O médico explicou ao pai que tinha sido uma queda e que havia quebrado a cana, mas já estava resolvido. E, sabendo, perfeitamente, de quem se tratava, da fera dono da casa, ao sair , olhou para o pai e deu a ordem que soava mais como um dos 10 mandamentos:

— Tá tudo certo! E, Batista, nada de tocar no menino! Tá ouvindo?

Seu Huygens me contou que diante daquele Habeas Corpus , ninguém se atreveu nem a resmungar. E ele dizia, com imensa gratidão, mais de setenta anos depois, que Barbalha não devia ser chamada de Santo Antonio , mas de Dr. Lyrio. Ainda hoje, dizia ele, sinto o calor da mão dele, na minha cabeça, quando entramos no consultório.

Foi essa história que contei aos novos alunos de Medicina. Lembrei-lhes que a nossa Arte, nos últimos dois séculos, avançou, tecnicamente, mais que nos dois e meio milênios anteriores. Descobrimos os antibióticos, a assepsia, a anestesia, a origem das infecções, a genética, a farmacologia. Mas perdemos, por outro lado, as profundas raízes humanísticas que são o alicerce básico da nossa atividade. Escapou-nos a magia, o encanto, o feitiço que herdamos dos nossos ancestrais e que ainda são profundamente terapêuticos. Precisamos recuperar, perdido em algum canto, a calidez da mão de Dr. Lyrio, aquela chama que permaneceu luzente por mais de sete décadas.

Por J. Flávio Vieira, médico e escritor

*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri

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