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A fragrância dos cios – Por J. Flávio Vieira

Colunista escreve semanalmente no Revista Cariri

13 de junho de 2020
A fragrância dos cios – Por J. Flávio Vieira

(Foto: Pixabay)

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Patrolino despertou em meio ao anúncio da TV. Em tempos de pandemia, aquela telinha era, praticamente, seu único refúgio: um meio seguro, mas insípido, de se comunicar com o resto do mundo. Estava há dois meses preso como se houvesse atrasado a pensão alimentícia. Acostumado com emoções fortes no trabalho, era contador de um firma grande, de repente, como na brincadeira de “Estátua”, viu-se paralisado. Sessenta dias confinado naquele apartamento tão pequeno que até seu basset , para adquirir uma pulga nova, precisava mudar de casa. A única companhia do nosso Patrolino, era o “Queiroz”: o cachorro foi batizado depois de empreender sua quinta fuga, escondendo-se nas redondezas, à procura de alguma cadela no cio, para o desespero do nosso contador. Separado há mais de dez janeiros de D. Mundinha, que o tolerou por mais de trinta anos, Patrolino, já sessentão, vivia naquela clausura. Mas resolveu, definitivamente, que não queria mais relacionamento sério com quem quer que fosse. Passou a comprar o amor verdadeiro de profissionais: Basta de neófitas e estagiárias! — gritou um dia. O comércio amoroso , entendeu, não era coisa para principiantes.

Naquele dia, no entanto, bateu-lhe um banzo logo depois que o anúncio de TV saltou-lhe aos olhos. Apresentava , melosamente, presentes possíveis para o “Dia dos Namorados”. De dentro de Patrolino reverberou um vazio, como se do sótão da sua alma tivesse desaparecido um brinquedo de infância: seu velocípede. Faltava-lhe, embora não pressentisse, alguém que dividisse com ele a cama, mas também ajudasse a descascar a mala de abacaxis que todos nós vamos acumulando nas despensas da vida. E, claro, resolver aqueles problemas que não existiriam se ele fosse solteiro. Passou a lembrar da lista de namoradas que percorreram seus caminhos. Fátima, a primeira da adolescência, aquela de olhos negros como cambuí em noite de chuva; Geronilda , a mocinha da padaria por quem um dia baixou os quatro pneus e até o estepe; Safira, nome de pedra preciosa, bonita como um jumento novo, colega de trabalho, que um dia lhe deixou , fazendo jus ao nome, por um cliente endinheirado. Interessante é que recordava com doçura de todas elas. Namoros de amassos e arrochos, de mãos bobas e sabidas, mas que nunca chegaram além da superfície. Paixão dérmica! Naqueles tempos, ir além do esfregaço, caía, imediatamente em dois poços: no pé do padre ou na alça da garruncha. Patrolino pensou consigo o que era o mais incompreensível: a lembrança mais doce, vinha de uma colega de escola que nunca tinha, inclusive, namorado, por recusa inteira de Florência (era assim que ela se chamava). Ficou na boca, eternizado, o gosto saboroso da fruta que nunca pode morder.

Preso em casa, com medo do vírus e ele sabia que velho é o bicho mais pegador que existe nesse mundo, só que de doença, Patrolino lembrou das redes sociais. Onde andariam as antigas amadas? Estariam vivas , solteiras, viúvas? Começou a fuçar o Facebook que é o bicho mais fofoqueiro que existe nesse mundo. E ainda falavam de D. Vitalina que morava ali em frente, pensou ele! À medida que passava de página em página, ia lhe batendo um desapontamento. Primeiro, já não eram os retratos antigos que guardara na cabeça os que encontrava agora no computador. Dera cupim e caruncho nas meninas. A Safira já não mais brilhava, morava na periferia de uma cidade próxima, o marido, antes próspero comerciante, agora tinha um vendinha. Geronilda, encontrou-a em São Paulo, já avó, com família grande e, pelo jeitão, vivia bem e sem atropelos. Os olhos guardavam ainda um pouco do brilho juvenil, mas a ferrugem dos anos tinha deixado suas cicatrizes. Não encontrou Fátima nas redes, mas, cavucando as páginas de parentes conhecidos, soube que tinha partido em viagem celestial cinco anos atrás. Percebendo a inexorabilidade do tempo, imaginou: tomara que elas não me procurem no Face! Vão ter a mesma sensação que tive? Patrolino tá só o caco?

No meio dessas elucubrações, o telefone tocou. Sabe-se lá porque, no íntimo, como numa premonição, Patrolino imaginou uma possibilidade remota, mas quem sabe, possível. Seria Florência, agora divorciada, nestes dias dos namorados, teria lembrado dele? As águas passadas poderiam mover as palhetas dos seus moinhos, até porque, em verdade, tinham ficado meio estáticas e jamais escorrido por debaixo da ponte. Trêmulo, atendeu o telefone, uma voz feminina suave saltou lá de dentro. Perguntou se era Patrolino Alencar, o contador. A entonação lhe pareceu inesquecível e seus olhos quase que turvaram. Foi como se seu coração tivesse clicado no link 1972. A mocinha continuou, deu-lhe bom dia, perguntou se morava aqui mesmo no Crato, como estava passando neste período de pandemia… Ele respondeu com voz trêmula, pronto para perguntar-lhe o nome , aquela que ficara dormência a tantos e tantos anos e a agora estava prestes a florir e frutificar. Finalmente teve a coragem e balbuciou:

— Quem está falando é a minha Florência? Feliz dia dos Namorados!

— Não, meu senhor! Desculpe! Meu nome é Geraldina, é sobre um boleto atrasado seu aqui da Loja Macavi!

Queiroz latiu lá do seu canto, quase como uma zombaria. Armava planos para escapulir novamente imantado pela fragrância dos cios.

Por J. Flávio Vieira, médico e escritor

*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri

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