Você sabia que a Exposição do Crato faz 81 anos? Pois é! Eu sei porque outro dia estava tomando uma cerveja no Bar do amigo Toninho, lá na Big Street, é como outro amigo, o Guilherme Alexandre e Silva chama o Calçadão do Crato. Pois bem, estava eu lá quando chega a biblioteca viva do Crato, para mim, o maior historiador de todos os tempos, o homem que sabe toda arqueologia da cidade. Inclusive, é opinião minha, que se existisse o Nobel de História, esse deveria ser concedido a ele. Estou falando de Huberto Cabral. Tudo bem, tudo bem! Pareço exagerado! Mas também tenho minhas críticas a ele, acho-o um purista em termos de linguagem, pronto. Mas deixemos isso para outra oportunidade. O que quero falar é sobre os 81 anos da Exposição do Crato.
Huberto Cabral me contou, aliás, contou-nos, porque o Ulisses Germano nessa hora estava comigo tomando uma água de coco, em verdade, fez um apanhado histórico, falou sobre uma reunião organizada por uns amigos, liderada por Pedro Felício Cavalcanti, e nessa reunião, os amigos, possivelmente antigos boêmios do século passado, porque o bar foi num desses cafés bar que havia naquela época próximo aonde hoje é o paço municipal, foi lá que foi pronunciada a célebre frase: “Precisamos criar um evento no Crato!” Pronto! Nasceu a Exposição do Crato.
De lá para cá, relatou nosso historiador que, perdoe-me o engano, é que talvez nesse momento em que aquele admirável senhor fez a conta não prestei muita atenção, o evento só não foi realizado nos anos de 1945, fim da segunda guerra mundial, no segundo ano após a primeira, e nos anos 2020 e 2021, recentemente, por causa da trágica pandemia de Covid-19 que assolou o mundo. Então, estamos na 78º edição.
Essa é parte histórica, e confesso, que pouco me interessa, porque do que gosto mesmo na Exposição do Crato, hoje em dia, Expocrato, é do povo que faz a Exposição do Crato: que vive e curte, polemiza e critica, trabalha, menos dos que enricam com ela às custas do povo.
Embora os que vivam a festa estejam espalhados por todo o Brasil, refiro-me especialmente, aos conterrâneos que aqui moram, para estes, pode o mundo acabar, havendo os 8 dias de festa, está bom demais. Eles quase morreram durante a pandemia. Mas essa condição, é uma fase da vida, normalmente entre os 17 e os 25 anos, depois desta idade, o mundo passa a ter importância, já fui destes, mas só durei até os 21.
Os que polemizam a festa, normalmente são bandoleiros partidários dos que usam a festa para se promover, ou os que atacam os que se promovem com ela, enfim, todos querem se promover através dela, é a única festa que tem situação e oposição, logo, qualquer semelhança com a política, ali, não é mera coincidência.
Os que trabalham, esses sim merecem toda nossa reverência, e embora citar nomes nos leve a cometer injustiça, porque acabamos esquecendo alguém, eu corro este risco, e ao citar, é como se estivesse abraçando esses guerreiros e guerreiras que em 10 dias dedicam parte significativa de suas vidas para ganhar o parco dinheiro para seu sustento. Por exemplo, barraqueiros do Espaço popular do “infernim” Zé Vaqueiro, Carlos Romel, Valmir, Silvinha, Junior Espetim, Pedro Carlos e suas famílias que se arregimentam para dar de conta de tudo, porque sai muito caro para todos eles. Erasmo, O Lala e os anônimos vendedores de castanha, amendoins e bombons em meio aquela multidão. Os credenciados catadores de recicláveis latas e garrafas. O pessoal da limpeza e dos banheiros, em especial a Preta Santina, que há quarenta anos está lá na luta. Você já parou um pouco lá no parque para trocar dois dedos de prosas com esse pessoal? Tem ainda a galera artista local, que ano após ano, inventam sempre uma picuinha para excluí-los.
Há o pessoal da cultura no Palco seu Elói, resistência, o Palco sonoro da Urca, os artesãos. Para mim, cronista miúdo, a Exposição do Crato não existe sem esses caracteres, a vida real explode nestes espaços, o Infernim é a própria resistência popular do que era a verdadeira Exposição, enquanto os grandes shows, atendem a uma necessidade imediatista do capitalismo selvagem midiático.
Talvez eu não seja compreendido, ou não entenda de festa, ou ainda seja um saudosista anti progresso. Ou talvez não, e haja quem me entenda e veja como eu vejo porque o que precisamos é enxergar aquilo que verdadeiramente é solene: o povo faz a Exposição há 81 anos!
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, flamenguista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










