“Então Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos magos, irritou-se muito, e mandou matar
todos os meninos que havia em Belém, e em todos os seus contornos, de dois anos para baixo,
segundo o tempo que diligentemente inquirira dos magos” Mateus 2:16
Voltaram os tempos bíblicos? Desde 1999 quando aconteceu a tragédia de Columbine, segundo o jornal Washington Post, 377 ataques a estudantes em escolas aconteceram nos EUA. A partir daí, os atentados só têm aumentado. Apenas no ano passado foram 47: uma média de um por semana. Neste 2023, os americanos já computam 131 tiroteios em massa, três atentados a cada dois dias. Mais de dez mil pessoas pereceram varados por balas e, entre crianças de até 11 anos, houve 59 mortes e 130 feridos. Entre adolescentes foram abatidos 344 e 827 ficaram lesionados. Isto apenas nestes três primeiros meses de 2023. Uma carnificina que faria Herodes pedir penico.
Abismados, vimos, rápido, a tragédia chegar nas nossas portas. É que as boas ações andam montadas em tartaruga e a maldade trafega em supersônicos. Desde setembro de 2022, até hoje, já somamos cinco atentados similares aqui no Brasil. Nos últimos doze anos já são trinta e sete perdas. O último atentado aconteceu numa creche em Santa Catarina, agora em abril, com o trucidamento de pelo menos quatro garotos. Para quem acreditava que catástrofes assim só aconteciam com bacanas e estrangeiros, ontem um aluno, armado com uma machadinha, invadiu uma escola pública no Sítio Carás, em Farias Brito, e feriu duas meninas de nove anos. A delinquência já não respeita fronteiras geográficas, econômicas, sociais. E, mais uma vez são alunos das escolas públicas, os mais pobres, os alvos preferenciais.
A pergunta que nos chicoteia a mente, nestes momentos, é a mesma: Que diabos está acontecendo com a humanidade? Como imaginar que a raça humana, que se diz racional, seja capaz de agredir de morte crianças que nem conhece? É a reprise da Banalidade do Mal de Arendt? Que tempos são esses? O que justifica a loucura reiterada, o holocausto agora à prestação? Como combater uma horda de insanos, de celerados que mata e trucida como se jogasse um videogame? O que desencadeou essa avalanche de desvario? A proliferação de armas? A pouca espiritualidade e empatia das atuais gerações? A desestruturação das amarras familiares? O torvelinho do consumo como chave da felicidade a qualquer preço? A transferência tecnológica da juventude para um mundo virtual paralelo, um Matrix onde tudo é permitido? A revolta dos excluídos social, econômica e psicologicamente? Como combater um inimigo que se não conhece?
O certo é que a esfinge olha os ponteiros do relógio enquanto aguarda que a decifremos. O mal ataca nosso calcanhar de Aquiles, as crianças, as janelas do futuro. Dá para ver os dentes vorazes da esfinge que lambe os beiços. Cuidemos ! Tic, Tac, Tic, Tac…
Por J. Flávio Vieira, médico e escritor. Membro do Instituto Cultural do Cariri (ICC)
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri