Nunca o sistema educacional foi tão debatido no mundo como atualmente, o que marca um momento de urgência e necessidade, uma vez que o fracasso escolar já se projeta além das dificuldades na aquisição do conhecimento e se instala no cotidiano de jovens e adolescentes como um fator de desestruturação psicossocial. No entanto, ainda existe uma grande dificuldade para muitos educadores reconhecerem e admitirem a falência da educação como produto.
A ideologia neoliberal manobra as estruturas sociais para uma submissão total de todos os segmentos para a manutenção eterna de uma complexa sistematização de produção, nesse contexto tudo vira mercadoria e consumismo. É quando o homem comum se alista voluntariamente em um universo sofisticado de desilusão constante, após ser explorado até o último suspiro em suas várias mortes sociais. A educação é uma ferramenta fundamental para a continuidade desse modelo aniquilador do ser social, quando deveria justamente desempenhar a função contrária: de libertação.
As rotinas educacionais de uma escola a serviço das doutrinas neoliberais, seja ela pública ou privada, incluem a transformação da educação em serviço, a do aluno e seu responsável em clientes, bem como a aquisição do conhecimento em um grande mercado em que se negociam as peças de reposição do hipercapitalismo. Para que tudo seja mantido em seu devido lugar no processo econômico de poucos explorando muitos, em uma nova espécie de escravização material e imaterial, é necessário que a escola forme indivíduos a partir de uma padronização de acriticidade, disciplina e imbecilização constante a partir de novos desejos de consumo.
Todavia, essa não é uma tarefa fácil para o sistema educacional predominante, pois como tudo que é aglutinado na ideologia e no método neoliberal, é preciso bater metas exaustivas e reproduzir perfeitamente a utopia da meritocracia, o que equivale usar o próprio cliente como massa de manobra e trabalho para alcançar o sucesso, a vitória, o engrandecimento, dentro dos mecanismos sociais em que o mais forte tem privilégios e tem a chance de excluir para ser incluso no grande pódio da competitividade existencial. É justamente essa premissa do vencer na vida que potencializa a criação de um cenário de aberrações educacionais.
Para que os números revelem a escola que aprova mais, seja no que for, é preciso desempenho, atarefamento inútil, ocupação exaustiva com aleatórios, repetição interminável de exercícios, avaliações e avaliações, que se tornam muito mais importantes do que o próprio processo de aquisição do conhecimento, o que traduz de imediato o embrutecimento do ambiente escolar e a produção em série de analfabetos funcionais. O resultado é devastador, todos muito bem letrados para o concreto, para aquilo que está na superfície. Sendo que a coisificação total do ser e do estar no mundo só será neutralizada através do poder de abstração, uma “mercadoria” em falta nas prateleiras desse tipo de modelo educacional. Se for preciso distinguir entre Kafka e Cafta, a situação se torna vexatória.
Além desses sintomas axiomáticos envolvendo a toxidade escolar neoliberal, existe um outro cenário não menos aniquilador, a militarização do ensino público e a ressuscitação dos aparelhos repressores fascistas, como a constante desqualificação dos docentes, do controle do pensamento e a instituição descarada da censura à liberdade de expressão, por intermédio de posicionamentos ideológicos, como o escola sem partido e investigações espúrias de comportamentos já vigentes. Sendo assim, vemos mais de um túnel no fim da luz, quando a mutação genética chamada Weintraub afirma em público que é mais vantajoso ter um diploma de (sic) “encanador”, do que doutor. Enquanto a caravana passa os cães ladram.
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri