Em tempos de velocidade extrema das informações, em que tudo parece fragmentado, descontínuo e efêmero, é comum muitos episódios importantes, devido às suas narrativas, caírem rapidamente no esquecimento, uma vez que a simultaneidade de fatos cria uma espécie de camuflagem da realidade, condenando ao ostracismo tudo aquilo que cessou sua exibição de imediato e passou a fazer parte do inconsciente coletivo. Nesse contexto, os conceitos de “coisificação” e “simulacro”, respectivamente de Guy Debord e Jean Baudrillard, podem ser aplicados, para o entendimento do atual protagonismo político brasileiro. No que diz respeito à ética e à honestidade.
As últimas informações, mais precisamente nos últimos dias, de acordo com o blog de Andréia Sadi, que auxiliares diretos de Bolsonaro admitem, nos bastidores, que “faz parte” o governo “ceder” ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, na indicação de dois nomes para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, se quiser facilitar a aprovação do deputado federal Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos, apontam para uma trama desavergonhada de benefício direto do filho do presidente. É óbvio que não se espera nada de bom, em se tratando daqueles que fazem parte da corja que está no poder. Tanto é que essa política de troca de benefícios, de forma cáustica, coisifica a ética e a honestidade, como se a origem delas fosse um esgoto a céu aberto.
O nepotismo é assunto de recriminação no mundo civilizado, pois contraria os princípios da impessoalidade, da moralidade, da igualdade e da isonomia pública. No Brasil, o tema é objeto legal e regulamentado, no âmbito do Poder Executivo Federal, pelo Decreto 7.203, de junho de 2010. Também tratam do assunto a Lei 8.112, de 1990, bem como a Súmula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal. Mesmo todo esse aparato legal não impede que a justiça brasileira não passe de um reles simulacro. É certo que existe uma brecha na Lei 11.440, de 29 de dezembro de 2006, que define os critérios para a escolha dos embaixadores, em seu parágrafo único do artigo 41, a lei federal autoriza em caráter excepcional que sejam escolhidos para os postos de chefes de missão diplomática permanente mesmo quem não faça parte da carreira diplomática, desde que sejam brasileiros natos, maiores de 35 anos, “de reconhecido mérito e com relevantes serviços prestados ao país”.
Além de não contemplar o nepotismo, essa brecha caracteriza competências e habilidades, mérito e serviços prestados, para que o indicado possa ser sabatinado pelo Senado, que aceita ou não a indicação. Uma busca minuciosa no currículo de Eduardo Bolsonaro é um passeio notável pelo bosque do faz de conta. Mas é possível entender como seria ele embaixador do Brasil na terra do excremento Donald Trump, que elogiou a indicação de pai para filho. Eduardo é acusado de negociações ilegais entre Brasil e Paraguay acerca da comercialização de energia excedente gerada pela usina de Itaipu. Vale ressaltar que essa negociata pode derrubar o presidente paraguaio Mario Abdo Benítez.
O então deputado do PSL, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara poderia ter agido como “lobista internacional” para favorecer uma empresa brasileira. O advogado José Rodriguez Gonzalez atuou nas negociações a cargo do vice-presidente paraguaio Hugo Velázquez e em nome dele intermediou negócios com a empresa estatal paraguaia ANDE (Administración Nacional de Eletricidad) e a Léros. Em mensagens divulgadas pela imprensa paraguaia, González informou que o grupo Léros é ligado à família do presidente Jair Bolsonaro e que em uma das reuniões estava Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP). Alie-se a isso, a incrível habilidade de fritar hambúrgueres fictícios.
Por Marcos Leonel – Cidadão do Mundo
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