Na sexta-feira (15), Trump e Putin se encontraram no Alasca para falar sobre a guerra na Ucrânia. Não foi exatamente um encontro casual de vizinhos no supermercado, mas o clima inicial até parecia cordial demais para quem carrega nas costas anos de ameaças e trocas de farpas. Cumprimentos efusivos, sorrisos largos, joinhas para a câmera. Parecia até propaganda turística.
Três horas de conversa depois, nenhum acordo de cessar-fogo. Trump fez questão de dizer que “muitos pontos foram acordados” e que “falta apenas um mais significativo”. Tradução: o problema central continua exatamente onde estava. Mas havia “boas chances”, segundo ele. Frases assim já viraram padrão em encontros desse tipo — parecem sempre anunciar uma paz que nunca chega.
Putin, por sua vez, disse que a reunião foi “construtiva” e que Trump demonstrou interesse em entender o conflito. Mas logo reforçou que todas as “preocupações da Rússia” precisam ser levadas em conta. Não é preciso muito para perceber que esse é o código diplomático para “a gente não vai recuar sem levar alguma vantagem”.
O presidente ucraniano, Zelensky, não estava lá. Trump prometeu que ligaria para ele depois. Fica a pergunta: como negociar sobre um país sem a presença dele na sala? Talvez a lógica seja a de que os donos da partida discutem entre si e depois avisam ao restante do time qual vai ser a regra nova.
No meio de declarações diplomáticas e promessas de novos encontros, os dois líderes também falaram de parcerias comerciais. É sempre curioso ver como mesmo no meio de uma guerra se arranja tempo para discutir negócios bilionários. O conflito pode esperar, afinal o mercado não para.
As fotos oficiais do evento mostraram Trump e Putin posando lado a lado, cercados de assessores e segurança. Putin chegou a virar meme ao reagir de forma atônita a perguntas de jornalistas. A guerra no leste europeu continua, mas pelo menos internet ganhou umas risadas.
A imprensa americana esperava que Trump, mais experiente e endurecido politicamente, fosse bater de frente com Putin. No fim, não foi exatamente um duelo de gladiadores, mas sim um jogo de xadrez com as peças paradas, cada lado segurando seu território e esperando o outro piscar.
As regiões ucranianas ocupadas pela Rússia foram, como previsto, o ponto central das discussões. Moscou controla cerca de 20% do país. E nenhuma das partes deu qualquer sinal de que está disposta a abrir mão dessas áreas. Sem esse passo, qualquer conversa de paz soa mais como um intervalo do que como um apito final.
No fim do dia, o saldo foi o de sempre: gestos amistosos, declarações otimistas e nenhum avanço concreto. Um roteiro repetido onde, no fundo, cada lado volta para casa cuidando do próprio jogo. E a guerra, que não participou da reunião, continua acontecendo fora da sala aquecida da base militar.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










