Estão mortas, outras desamparadas, secas. O jardim testemunha a ausência humana. Casa fechada. O único verde que resta são as lembranças daqueles olhos perdidos de esperança. O seu banco continua na varanda, dura uma vida, foi herança do seu avô, um assento para descanso ou esperar a paciência.
Uma garrafa de vinho, guardava uma carta de amor, de um casal clandestino. As bolsas de couro feitas pelas suas mãos estavam atrás da porta, a poeira, escondia os detalhes dos carimbos.
O sofá vermelho guardava em silêncio confidências, mas não suportava mais nenhum peso.
Os livros continuavam organizados na estante junto ao mofo e às traças.
Caixas vazias estavam amontoadas na sala, nenhuma mudança prevista.
Na mesa da cozinha, uma mosca se suicida, na caneca com café e a barata caminha em cima do pão seco.
Batidas na porta. O homem da companhia energética chegou para cortar o abastecimento de energia, atrasada durante todo o verão. A casa já não precisa de luz.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri