Edwin Huble sempre acreditou que a humanidade precisava enxergar mais longe e olhar para o céu com a certeza de que o desconhecido não deve amedrontar, pois ele é o que estimula a formulação de nossas principais perguntas. Uma das ideias que contribuíram para alargar os horizontes da civilização foi tirar os telescópios do chão e lança-los ao espaço, viajando por entre as estrelas. Max Planck revolucionou a física ao formular sua teoria quântica, seu feito foi tão revolucionário que só foi aceito depois que Albert Einstein utilizou seus conceitos, cinco anos depois, para explicar o efeito fotoelétrico. Esses são exemplos de como a ciência busca elucidações e novos caminhos.
É certo que nem sempre os grandes pensadores, com suas habilidades e competências, são prontamente aceitos e compreendidos, uma vez que as descobertas sempre revelam a falência de velhos conceitos, bem como a desconstrução de velhas estruturas. O trauma causado pelo novo sempre encerra desbravamentos, que se projetam para frente, além da conformação, além da estagnação do que já foi conquistado. Obviamente isso desperta a dinâmica de mecanismos do poder, em que o controle dos saberes fundamenta a perpetuação daqueles que estão nos comandos das sociedades. No entanto, mesmo com todas as implicações de domínios, a civilização segue em frente, nem sempre totalmente ética, nem sempre totalmente para todos.
Em termos de inventividades e manutenções do poder o Brasil não está fora das narrativas contemporâneas. Muito pelo contrário: o Brasil está no topo, nunca o brasileiro teve tanto acesso a feitos extraordinários, sendo o maior desses intentos, a revelação espetaculosa do defensor bolsonarista, indubitavelmente um desafio para o mais proficiente dos cientistas. Um caso único de histeria coletiva, mesmo tendo em vista a história da formação do Brasil, que nunca deixa de ser a própria história da miserável alma humana. Essa espécie de animal ereto tem uma forja distinta de tudo que o homem produziu para evoluir. Se existe uma contramão na história, esse é um exemplo farto, enquanto o homem busca novas possibilidades científicas para conviver melhor, o homus bolsonaris caminha por um corredor escuro carregando consigo todas as mazelas da civilização, que a própria humanidade descartou como papel higiênico usado.
Muito se tem falado sobre as aberrações que povoam a realidade brasileira e que sem dúvidas são fatais. Transformar a mentira em verdade; consubstanciar o achincalhe em ética; disseminar o ódio para dividir o povo brasileiro; alimentar o povo com agrotóxicos e servir o câncer como sobremesa; aditivar a pobreza com políticas públicas arquitetadas para o atendimento de demandas privadas; subsidiar o preconceito e a exclusão por intermédio de estratégias terrivelmente evangélicas; manipular a justiça para encobrir ligações com milícias, assassinatos, lavagem de dinheiro e formações explícitas de quadrilha; barganhar o preço da prisão do maior rival político como se fora isso em um cabaré de luxo; aquartelar o poder público e cavar uma latrina na caserna para despejar a democracia; esses são exemplos de como criminalizar o fazer público. Mas nada supera a presença indisfarçável do defensor bolsonarista.
Esse ser, formado pela bufa tóxica que a humanidade digeriu e defenestrou como sendo o resultado de uma depuração evolutiva, é a peça mais importante no processo de entronização desse modelo de esvaziamento do futuro. É ele que alimenta tudo o que é terrivelmente evangélico, tudo que é divinamente criminoso, tudo que é ilegalmente praticado, em nome de Deus, da família e da propriedade. Esse abjeto está ao seu lado e forma solenemente o tecido social, vai para a igreja, vai para o culto e deixa as crianças na escola. Ele pode ser irmão, amigo, conhecido, colega de trabalho, e de perto ele é muito mais radioativo do que qualquer acidente nuclear. Desprezar essa tipologia é a estratégia errada. Desmascarar a conduta nefasta é um ponto de partida, para que o passado não volte em forma de farsa.
Por Marcos Leonel – Cidadão do Mundo
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri