Decidi tudo. Sair atirando em plena luz do dia. Deixei os estragos. Tomei outro rumo, traçado antes da primavera. Tentei desbravar a lua, já que os poetas fazem tanto falatório e na mesma estação fui provar do calor intenso do sol. Que decepção, a lua e o sol, eram maiores na minha cabeça e deveriam continuar tendo a serventia do distanciamento.
Fraco, como verso sem ritmo. Desnutrido de luz e das mãos de fogueira. O horizonte embasado em um degradê cinza atravessava os caminhos. O menino observava em silêncio a romaria de tristeza, as velas seguiam apagadas e os rostos procurando o chão.
O menino resolveu esperar. A romaria passou, distante da lua e do sol.
A primavera ainda não tinha chegado, talvez demorasse mais um pouco, mas na rachadura da parede da varanda, o ponto mais alto da moradia despontava a flor boa-noite.
A simplicidade da boa-noite, naquele exato instante era maior que a lua e o sol e estava ao alcance das mãos. Mas é preciso ter cuidado, a boa-noite também morre.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri