“Acupuntura”. A metáfora do método oriental para uso de agulhas no alívio de tensões foi utilizado pela vice-governadora do Ceará, Izolda Cela, nessa quarta (15), para indicar a precisão oferecida pelos resultados do Ensino Médio no Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece) 2019.
A avaliação teve participação de 97% dos 423 mil alunos da rede estadual. Em Língua Portuguesa e Matemática, os alunos atingiram os melhores indicadores desde 2012. Mas, os dados ainda refletem maior desenvoltura com as letras do que com os números.
O maior crescimento ocorreu em Língua Portuguesa. Pela primeira vez entre 2012 e 2019, os estudantes alcançaram nível “intermediário” de proficiência, com 278,2 pontos registrados em 2019. Na escala do Spaece para a disciplina, resultados de até 225 pontos são considerados de nível “muito crítico”; de 225 a 275, “crítico”; de 275 a 325, “intermediário”; e acima de 325, “adequado”. Em 2018, o nível era crítico, com 271,6 pontos.
Mas, o avanço dos estudantes em Matemática foi bem mais tímido. Embora tenham atingido o melhor índice em oito anos, a proficiência na matéria ainda está na categoria “crítica”, com 274,3 pontos em 2019. O valor foi superior a 2018, quando eles obtiveram 272,5 pontos na prova. Na escala – que é distinta da de Língua Portuguesa -, médias de até 250 são consideradas de nível “muito crítico”; de 250 a 300, “crítico”; de 300 até 350, “intermediário”; e acima de 350, “adequado”.
Ainda em relação à disciplina, mais de 70% dos matriculados que realizaram o Spaece 2019 estão nos níveis muito crítico (41%) ou crítico (31,5%), e cerca de 27% se dividem entre os níveis intermediário (15,5%) e adequado (11,6%) de proficiência. “Desafio” foi a principal palavra utilizada pelo governador Camilo Santana para se referir aos próximos passos na disciplina, após comemorar os bons resultados.
Incentivos
“Português evoluiu melhor. Isso para nós é muito positivo. Mas temos desafios e esse é um trabalho permanente, já construindo estratégias para 2019, cujo ano letivo vai começar agora, em fevereiro”, ressaltou Camilo, lembrando que o Estado tem estimulado os alunos com premiação como computadores, intercâmbios e cursos.
A secretária estadual da Educação Eliana Estrela considera que “o Ensino Médio como um todo ainda é desafiante”. Especificamente para Matemática, a Pasta projeta ações como o “Cientista Chefe”, desenvolvido em parceria com universidades; cursos de Especialização e Mestrado para professores voltados para a disciplina; e materiais estruturados para a matéria. “Mesmo tendo sido um resultado desafiador, crescemos um pouco, e vamos avançar cada vez mais”, espera a gestora.
Doutor em Matemática e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jorge Lira pondera que as dificuldades na disciplina são multifatoriais e que ela deve ser encarada como um processo. O especialista e uma equipe de quase 50 pessoas auxilia a Seduc a elaborar um raio X “baseado em evidências” para entender o fenômeno e desenhar estratégias voltadas para as deficiências de cada região.
“Queremos trazer os professores para uma formação em que eles relacionem os tópicos do Fundamental com o Médio e possam identificar os problemas de aprendizado. Não dá para ser abstrato e aplicar a mesma solução por igual”, ressalta Lira.
Ele sugere a elaboração de materiais didáticos e computacionais para descomplicar tanto o ensino quanto a aprendizagem. “Temos que colocar o remédio certo para cada caso”, aponta.
O governador Camilo Santana destacou a ampliação do ensino em tempo integral como estratégia para avanço dos índices. “Os números mostram que, nas escolas de tempo integral, os resultados têm sido melhores, porque os alunos têm reforço escolar no período da tarde, e a permanência e a relação com a escola são mais fortes”, explica.
Em 2020, mais 25 escolas de Ensino Médio devem receber a modalidade, totalizando 277 unidades de ensino com a jornada prolongada. Hoje, são 252 do tipo, sendo 130 de tempo integral e 122 de ensino profissionalizante. Com isso, uma em cada três escolas da rede estadual oferta o modelo integral. Por meio dele, os alunos passam, pelo menos, sete horas por dia na escola.
Fundamental
O planejamento do futuro, contudo, também exige que sejam dados alguns passos em relação a etapas anteriores do Ensino Básico. Conforme o governador, o Estado deve continuar e fortalecer a pactuação, com os municípios, de melhoria do Ensino Fundamental. “Se o aluno não faz um bom Fundamental, ele já chega comprometido no Ensino Médio. O esforço para ter um bom resultado é gigantesco. Deve haver essa melhoria contínua para que ele já chegue adequado, dentro das condições desejáveis”, declara.
O trabalho de cooperação envolve o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) e o Mais Paic, que destinam investimentos as 184 cidades cearenses, distribuídos em premiações, formações profissionais e material didático.
Por Nícolas Paulino
Fonte: Diário do Nordeste