Na região Centro-Sul do Ceará, os rios Salgado e Jaguaribe sofrem com a degradação verificada ao longo dos cursos. São muitas as irregularidades. Esgotos oriundos das casas e dos estabelecimentos comerciais, desmatamento, colocação de entulhos e de lixo e até animais mortos degradam os importantes afluentes.
A degradação dos rios, em particular no entorno dos centros urbanos, é um problema que se agravou nas últimas décadas. O crescimento das cidades, a falta de saneamento básico e de consciência ecológica por parte dos moradores contribuíram para o quadro atual, conforme análise de ambientalistas.
“A degradação dos nossos rios é um problema sério, que afeta a qualidade da água que escorre para os mananciais”, pontua o ambientalista Paulo Maciel, ao destacar que, sem rede coletora e de tratamento de esgoto, os dejetos são lançados diretamente na calha dos cursos de água. Em Iguatu, a maior cidade da região, a rede de tratamento de esgoto só atende 5% dos imóveis, e diariamente dejetos são jogados no leito do Rio Jaguaribe e seguem para o Orós.
“Os esgotos despejados diretamente nos rios, corte de mata ciliar e colocação de lixo e entulho são problemas ambientais que se agravam ano após ano”, avaliou o professor de Biologia, Marcos Oliveira.
Poluição contestada
A Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), no entanto, contestou a poluição no trecho do Rio Salgado e informou que monitora a qualidade da água em todas as bacias hidrográficas do Estado. Em nota, o órgão destacou que “os exames da qualidade da água são realizados pela Semace trimestralmente”. Na bacia do Rio Salgado, foram analisadas, ainda conforme a Superintendência, nove amostras no mês passado em trechos do Rio Salgado, “com resultados aprovados, com base em elementos químicos e índices encontrados”. Quanto à poluição do Rio Jaguaribe, não houve resposta.
Transposição afetada
No Ceará, espera-se ansiosamente a transposição do Rio São Francisco. As águas do Velho Chico devem chegar ao Açude Castanhão, o maior reservatório do Ceará, aliviando, assim, as dificuldades existentes no abastecimento hídrico do Estado. E são justamente o Salgado e o Jaguaribe os dois principais caminhos para as águas da transposição do Rio São Francisco. Ambos carecem de proteção ao longo de seus cursos.
“Se medidas não forem adotadas, como a implantação de saneamento nas cidades e vilas nas margens dos rios, o Castanhão vai receber, a exemplo do Orós, água poluída”, lamenta o ambientalista. Ele recorda que a preservação dos rios e o combate à poluição até foram previstos no projeto de transposição, mas não houve avanço.
Agravante
A poluição hídrica é considerada também um agravante para o sertão, que sofre o crônico problema da escassez de água. “Os recursos são limitados e ainda poluídos”, frisou Maciel. Ele defende uma ampla articulação entre a sociedade e os políticos para fazer cumprir a política nacional e as legislações que tratam do saneamento básico.
A Semace esclareceu ainda que as políticas públicas, programas, projetos ou ações de preservação e recuperação de rios são de responsabilidade da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) e Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH).
Por Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste