A Força Aérea Brasileira (FAB) instaurou um processo administrativo para apurar supostas irregularidades no uso de um imóvel funcional destinado ao segundo-sargento Manoel Silva Rodrigues , preso na Espanha depois de ser flagrado na última terça-feira traficando 39 quilos de cocaína dentro de um avião da própria FAB. A informação sobre o processo foi confirmada ao GLOBO na manhã desta segunda-feira, três dias depois de a reportagem enviar os questionamentos à assessoria de imprensa da Força.
“O militar é permissionário de um Próprio Nacional Residencial (PNR) em Brasília (DF) e há, em andamento, um processo administrativo para apurar possíveis irregularidades”, informou à reportagem o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica. O imóvel funcional destinado ao militar fica na Asa Sul, num bloco onde a maioria dos apartamentos é da União, de uso da FAB, com destinações a sargentos.
Na última quinta-feira, O GLOBO publicou uma reportagem que mostrou que Rodrigues, de 38 anos, já não vive no apartamento funcional há pelo menos um ano e meio. No imóvel, permanecem a ex-mulher e os filhos pequenos.
No prédio, há 13 apartamentos funcionais, administrados pela Aeronáutica, e 11 particulares, cujos donos compraram os imóveis da União. Duas pessoas que trabalham no condomínio confirmaram à reportagem que o imóvel onde vivem a ex-mulher e os filhos é funcional e que Rodrigues vive com outra mulher em outro lugar. Agora, a Aeronáutica apura a existência de irregularidades.
A ex-mulher do militar não quis falar com a reportagem no prédio. Por telefone, limitou-se a dizer:
— Não sei do que você está falando. Não sou casada. Sou solteiríssima.
O segundo-sargento da Aeronáutica levava uma vida de um militar comum, sem ostentar carros de luxo, sem comportamentos exteriores de riqueza, sem gestos que denotassem uma atividade criminosa. Assim ele era visto pelos olhos de seus ex-vizinhos militares, moradores de um prédio na Asa Sul ocupado principalmente por sargentos da Aeronáutica, e pelos funcionários que prestam serviço no edifício.
A prisão do militar, por traficar 39 quilos de cocaína num voo da FAB, dentro de uma missão relacionada a uma viagem oficial do presidente da República, Jair Bolsonaro, deixou os ex-vizinhos militares surpresos. E constrangidos, o mesmo constrangimento que perpassou pelos gabinetes do comando da Aeronáutica e do Ministério da Defesa.
O segundo-sargento é descrito como um militar calado, discreto, sem sinais de ostentação. Costumava visitar os filhos numa moto ou num carro popular. O salário bruto na Aeronáutica é de R$ 7,2 mil.
Rodrigues está preso no Centro Penitenciário Sevilha 1. A prisão ocorreu em Sevilha, capital da Andaluzia, no sul da Espanha.
O militar divide com um outro preso uma cela de 18 metros quadrados , sem televisão. Já teve banho de sol e recebe quatro refeições diárias. No presídio estão cerca de 1,3 mil detentos de menor periculosidade. Segundo as informações da polícia espanhola, ele foi flagrado com 37 pacotes de cocaína, ao passar pela alfândega do aeroporto em Sevilha.
Fonte: O Globo