Imagens obtidas pela Folha revelam que Beto Freitas, 40, foi asfixiado por quase quatro minutos, diante de 15 testemunhas, após ser espancado por pelo menos dois minutos por seguranças de uma unidade do Carrefour de Porto Alegre na última quinta (19).
O vídeo mostra, ainda, que Freitas agrediu um dos vigilantes. Devido à qualidade do vídeo não é possível ver com clareza se um dos seguranças, Giovane Gaspar, disse algo que teria desencadeado a primeira agressão. A gravação mostra que, antes de agredir Giovane, Freitas para por um segundo e olha para o vigia. O outro segurança é Magno Braz Borges.
Segundo declarações de Milena Borges Alves, 43, viúva de Beto, a jornalistas, o marido teria feito um aceno a uma funcionária do caixa, em tom de brincadeira, após concluírem as compras, e deixado o mercado acompanhado de seguranças. Quando ela terminou de pagar pelos produtos e saiu da loja, deparou-se com o espancamento.
No vídeo, ela aparece empurrando um carrinho de supermercado no momento em que os seguranças começam a sufocar a vítima. Ela tenta impedir e chega a ficar entre Beto e um segurança, mas é puxada para longe e até empurrada por funcionários do mercado. Impedida de reagir, ela assiste à morte de Beto Freitas.
Além dos dois seguranças que agridem Beto Freitas, é possível ver no vídeo uma fiscal do supermercado filmando e observando o espancamento sem interferir na ação.
Em outro vídeo obtido pela Folha, a fiscal Adriana Alves Dutra aparece intimidando testemunhas. Ao homem que filma o sufocamento de Beto Freitas ela diz: “não faz isso [filmar] que eu vou te queimar na loja”. A funcionária afirma, então, que Freitas “deu em uma mulher lá em cima”.
Ao ser questionada sobre por que os funcionários o agrediram com tanta brutalidade e sobre o motivo de estarem sobre ele, ela diz: “Se você conseguir acalmar ele, eu tiro todo mundo de cima dele [Beto Freitas]”.
Um homem tenta ajudar Beto Freitas mas é afastado pela fiscal enquanto outros dois seguranças de terno se aproximam.
Durante as agressões, diversas pessoas passaram pelo local e não intervieram. Quando Beto Freitas se mexe pela última vez, há em volta dele pelo menos 15 testemunhas. É possível que haja mais testemunhas fora do alcance da câmera.
Beto Freitas foi velado e sepultado neste sábado (20) no cemitério São João, em Porto Alegre, sob pedidos de justiça e fim do racismo.
De acordo com o Atlas da Violência, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2018, 43.890 negros foram assassinados no Brasil, o equivalente a 120 pessoas por dia ou 5 por hora. Na prática, a cada 12 minutos uma pessoa negra foi assassinada naquele ano.
Fonte: Folhapress