O desabamento de um paredão no lago de Furnas, em Capitólio (MG), pode ter sido causado pela erosão do solo, que teria sofrido infiltrações com as águas das fortes chuvas que atingem todo o estado há dias, segundo especialistas. Há, também, outras hipóteses para a tragédia, como a falta de um mapeamento de riscos da região e o fato de que paredões e falésias costumam ceder naturalmente.
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O desabamento no começo da tarde deste sábado (8) deixou 7 mortos, dezenas de feridos (4 ainda estão internados) e 3 desaparecidos. A Marinha do Brasil informou que um um inquérito será instaurado para apurar as causas e a Polícia Civil também também já investiga o caso. Além disso, a Marinha deve investigar se os barcos de passeio poderiam estar ali, dadas as condições climáticas e os alertas meteorológicos.
Ao fim deste texto, entenda como é a formação rochosa em Capitólio.
Condições climáticas e geológicas
Somado às chuvas intensas dos últimos dias, pesa o fato de a região ser basicamente formada por rochas que possuem uma resistência menor. “A entrada de água nessas áreas pode fazer a rocha perder a coesão, que é a resistência interna. E pode haver uma ruptura como essa”, explicou tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.
Fenômeno natural
Gustavo Cunha Melo, especialista em gerenciamento de risco, disse em entrevista à Globo News que a rocha que despencou aparentava estar com muita erosão. Ele também afirma que a queda é parte de um fenômeno natural.
“Desabamento de falésias acontecem em algumas praias do nordeste. E, no caso desse cânion, são acidentes naturais, eles vão acontecer. Essa rocha estaca com muita erosão, totalmente fragmentada. Aparece uma cicatriz incrível na rocha e ali iria desabar em algum momento”, disse.
“A tromba d’água pode explicar o desabamento neste momento? Pode, assim como também não precisava nada – ela ia desabar em algum momento por erosão, por um processo natural”, afirmou.
Na opinião de Tiago Antonelli, do Serviço Geológico do Brasil, esse tipo de queda é natural em formações rochosas e acontece no país todo — e, assim como outros especialistas, também afirma que as chuvas coincidiram para a tragédia. Ele não acredita que a queda tenha relação com o fato de o lago ser artificial.
“A queda, no meu ponto de vista, está ligada a vários fatores, mas principalmente, nesta época do ano, às chuvas que percolaram as trincas e fraturas que existem. A chuva acelera tanto a formação quanto o tamanho dessas trincas. Então a trinca foi sendo percolada com água, os sedimentos foram saindo e acelerou-se os processos erosivos que culminaram na queda desse bloco”, disse.
“Esse tipo de evento é natural e ocorre aos milhares no Brasil inteiro. O que acontece é que hoje o turismo está avançando para regiões que antes não se conheciam. E hoje as pessoas estão portando celular e câmera fotográfica e, com isso, conseguem relatar esse tipo de evento e até sofrer com as consequências. Mas, no meu entendimento, é um evento natural que acontece aos montes no Brasil inteiro”, completou.
Aihara corrobora com o que disse Antonelli. Ele também afirmou que o desmoronamento de rochas é comum em Capitólio, mas o que agravou a situação foi o tamanho e modo como as pedras caíram. “Nesse caso, como a gente teve esse tombamento perpendicular, e pelo tamanho da rocha, a gente acabou tendo essas pessoas diretamente afetadas”, disse. Geralmente, esse tipo de desmoronamento acontece com as rochas caindo até mesmo “de pé”, e não perpendicular, como foi neste acidente.
Mapeamento de riscos
Segundo Joana Paula Sanchez, especialista em turismo geológico e professora da Universidade Federal de Goiás, a existência de um mapeamento técnico da região poderia ter evitado que pessoas estivem tão próximas de uma área de risco.
“Nessa região, que tem muito quartzito, que sofreu uma deformação, é comum que essas rochas sejam fraturadas. Cair um paredão de pedras não é tão comum, mas pode acontecer”, afirmou.
Para Sanchez, as mortes poderiam ter sido evitadas caso existisse um mapeamento geológico da região — e que essas informações fosse usadas para que autoridades impedissem barcos e turistas chegassem tão próximo das pedras, principalmente em época de chuvas.
“O que acontece hoje em dia é que a gente não tem mapeamento geológico, nesses locais, de uso turístico. É muito raro existir uma análise geotécnica, uma análise por um geólogo, de riscos desses locais”, disse.
“A gente não tem, nos espaços turísticos, um mapeamento geológico técnico. E falta mesmo. Faltam profissionais, mas falta muito mais as gestões públicas saberem que o geólogo não é só para mineração. A gente trabalha também com risco de acidente. Esse acidente poderia ter sido evitado, sim. Esse bloco já estava se deslocando da parede, dá pra ver que ele já estava fraturado.”
O prefeito de Capitólio, Cristiano Silva, disse em entrevista à Globo News que nenhuma norma impedia as lanchas de estar naquele local, próximas do paredão. Segundo ele, o que não pode é atracar no cânion para que os banhistas entrem na água.
Formação geológica
Conhecido como “Mar de Minas”, o Lago de Furnas é um dos maiores lagos artificiais do planeta. A região é formada por seus famosos cânions e águas navegáveis. Antes da chegada da água, haviam diversas fazendas que agora estão submersas.
À Globo News, Sanchez explicou sobre a formação rochosa da região. “As rochas que ocorrem em Capitólio são rochas quartzitas. Não são rochas sedimentares, são metamórficas, são mais duras. O que acontece é que a região sofreu deformações, que geraram todas essas fraturas e falhas que a gente enxerga. A gente enxerga as rochas muito fraturadas, cheia de espaços vazios — e foi um desses espaços grandes que fez ceder esse bloco.”
Antonelli também falou sobre a formação dessas rochas. “A rocha que compõe esses paredões é formada por grãos de areia. Essa areia, ao longo do tempo, com temperatura, com pressão, ela formou a rocha e, agora, com os processos erosivos — e com as chuvas, com os ventos —, ela volta a ser areia. É uma rocha que é frágil, que é mais suscetível a ocorrer evento que vimos em Capitólio.”
Fonte: g1