O Ceará tem, pelo menos, 71.374 pessoas acima de 60 anos com Alzheimer. O registro é da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), que contabiliza ainda que, em média, desde 2017, o estado tem 1.800 novos casos a cada ano.
O aumento pode ser atribuído ao envelhecimento da população, avalia o presidente da Associação Brasileira de Alzheimer no Ceará (Abraz-CE), Phelipe Cabral. “É um país que está envelhecendo. O número de pessoas que estão vivendo e transpondo acima de 60 anos já é uma realidade. Quanto maior o nível de expectativa de vida, também gera provavelmente um número maior de doenças crônicas degenerativas. O Alzheimer é uma delas”, explica.
Phelipe explica que nos casos de Alzheimer, uma vez recebido o diagnóstico da doença, é essencial a realização de terapias físicas e mentais que estimulem o paciente. “O tratamento vem justamente retardar a progressão da doença, manter a qualidade funcional, o controle comportamental e a harmonia social”, coloca. O objetivo, segundo ele, é retardar a progressão da doença e manter o indivíduo o mais racional possível enquanto puder.
Além disso, Phelipe reforça que as ações de conscientização são necessárias para alertar a população sobre esse aumento e as prevenções de possíveis demências. Dentre os fatores de prevenção para doenças cognitivas, ele enfatiza a prática de atividades físicas, o controle e equilíbrio da alimentação, o cuidado do coração, da pressão arterial e da diabetes e manutenção de atividades sociais e o cérebro ativo.
“Aprender uma atividade manual, desenvolver uma atividade cognitiva, são hábitos de vida que geralmente conseguem reverter uma curva de possível declínio cognitivo”, diz.
A dona de casa Hilda Santos da Cunha, 82 anos, e a professora aposentada Iracema Nobre, 76 anos, estão entre as mais de 70 mil pessoas acima de 60 anos com Alzheimer no Ceará. Para Hilda, a percepção de que algo estava errado ocorreu quando ela esqueceu o aniversário da filha Ana Lucia da Cunha Cavalcante pela primeira vez. “Eu fui muito esperada, então todos os anos ela sempre fazia um bolinho fofo para comemorar. Podia estar na situação crítica que fosse, mas ela fazia um bolo”, conta a filha. O diagnóstico do Alzheimer veio aos 70 anos.
Ao descobrir a doença, a família optou por não compartilhar com a paciente o que significava ter Alzheimer. “Ela nunca teve noção do que era, nem quando começou, nem agora. Eu achei que seria um sofrimento indevido, desnecessário”, Ana. A semana da idosa é marcada por atividades que vão desde o convívio com amigas, até a realização de exercícios físicos. “Três vezes por semana ela faz hidroginástica. Só de sair, ver as colegas, é de suma importância. A terapeuta faz brincadeiras com ela, a faz escrever. Ela não estudou muito, fez até a terceira série, então o pouco que ela sabia, a gente tem que ficar incentivando para não esquecer”, afirma Ana.
Já no caso da professora aposentada Iracema Nobre, 76 anos, o processo de esquecimento transcorreu de modo muito rápido e a doença já está em estágio mais avançado. “Quando ela foi ao médico, já chegou com o Alzheimer bem avançado”, pontua a neta Karoline Farias, 22 anos. Nessa situação, as formas de estímulo são distintas. Conforme Karoline, todos os dias a família tenta fazê-la lembrar de palavras importantes, como banheiro e água.
“A gente tenta treinar as coisas básicas, como o nome dela, rezar o pai-nosso. Todo dia a gente fica provocando ela para lembrar de hábitos que tinha. Tem dias que ela fala direito, mas outras que ela não lembra as palavras, que troca”, diz Karoline.
Porém, o esquecimento causado é uma dor constante. Iracema chora quando se lembra do filho ou do pai. “Ela tem um amor enorme pelo meu tio, único filho homem. É a coisa que ela jamais esquece. Se falar, ela começa a chorar e a lembrar”, conta Karoline.
Por Beatriz Rabelo e Thatiany Nascimento
Fonte: G1 CE