Existe um contraponto para furar a mídia hegemônica e de comunicação de massa, ainda que distante de se equiparar, seu poder de disparo e influência midiática, a capacidade e potência dos veículos detentores da comunicação no país, controlado por grupos econômicos, religiosos e de políticos (mesmo a legislação brasileira não permitido concessão de veículos de comunicação para parlamentares e gestores eleitos).
De acordo com o relatório “Monitoramento da Propriedade da Mídia no Brasil” realizado pelo Coletivo Intervozes e Repórteres Sem Fronteiras “Os 50 veículos analisados pertencem a 26 grupos ou empresas de comunicação. Desses, todos possuem mais de um tipo de veículo de mídia e 16 possuem também outros negócios no setor, como produção cinematográfica, edição de livros, agência de publicidade, programação de TV a cabo, entre outros. Além disso, 21 dos grupos ou seus acionistas possuem atividades em outros setores econômicos, como educação, financeiro, imobiliário, agropecuário, energia, transportes, infraestrutura e saúde. Há ainda proprietários que são políticos ou lideranças religiosas”.
É dentro deste contexto de centralização e controle da informação que a mídia atua no pais, reproduzindo os interesses ideológicos e econômicos de classes dominantes. Não existe neutralidade da mídia, mas uma suposta imparcialidade para fazer bons negócios.
Mesmo considerando o poderio monopolista da mídia, é crescente na contemporaneidade, o uso e a apropriação das inovações tecnológicas pelas camadas populares como contra receptores e produtores de conteúdos para se contrapor à comunicação hegemônica.
É a mídia self e dos movimentos sociais que vão criando novas narrativas dentro deste cenário que exige entendê-lo como campo de disputa que vem sendo ocupado pelas mais diversas e conflitantes forças políticas. Se toda brecha na política é ocupada, a mídia faz parte deste cenário, se não a ocuparmos, não nos enganemos, a mídia não ficará vazia.
Cada casa e cada rua se transforma num ponto de comunicação interligado as plataformas das redes sociais, as mesmas que também servem para o processo de criação dos bancos de dados para inteligência artificial e norteamento do mercado, enfim para a acumulação do capital.
Parafraseando o cineasta Glauber Rocha “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” é mais atual do que nunca. Imergir nas inovações tecnológicas e se apropriar da sua dinâmica e complexidade política e técnica é uma exigência para novas formas de fazer “agitação e propaganda” para a luta democrática e popular.
É crescente o contraponto midiático que coloca pessoas, lutas e organizações em evidência. Esses mecanismos têm poder de alcance menor e em bolhas, entretanto, são indispensáveis, principalmente, quando as informações e os serviços estão disponíveis nas mãos de boa parte da parte população, através dos telefones móveis. Pagamentos de contas, registros de eventos, previsão do tempo, orientação médica e até relacionamento afetivo é possível ter a partir dos celulares, além, claro, de recepção e produção de conteúdos midiáticos: vídeos, fotos, cards e áudios.
É a produção de conteúdo midiático que vai sendo produzida instantaneamente numa contra narrativa, mesmo não atingido em larga escala tem o seu poder de alcance que comunica para uma parcela da população de forma particularizada e criar possibilidades de desinvisibilizar vozes, apontar caminhos, articular ações e ocupar os micros espaços políticos de poder. Como é usado no linguajar peculiar e legítimo do movimento hip hop “nois é” a mídia.
Entretanto, a luta política de disputar os micros espaços políticos da mídia não se separa da defesa da democratização da comunicação do país e da ofensiva contra o monopólio midiático que concentra, define e orienta as informações que deverão chegar em cada casa e bolso no Brasil.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri