Ao estudar a santificação popular no mestrado em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), o jornalista Dellano Rios percebeu uma repetição nos tipos de narrativas sobre estes personagens. “A ideia de martírio é a da defesa de um valor cristão, que nesse caso é o da castidade. Geralmente, são mulheres mortas por homens. Em alguns casos, são vítimas de violência sexual”, conta.
A relação entre o caso de Aurora e outros no Cariri motivou a professora e pesquisadora Zuleide Queiroz, da Universidade Regional do Cariri (Urca), a mapear outros casos de violência contra a mulher que se tornaram “santas” na região. Todas são crianças ou adolescentes. Entre elas está Benigna Cardoso, de Santana do Cariri, que foi morta aos 12 anos de idade, se defendendo de um estupro e foi aclamada “Heroína da Castidade”.
Há relatos de outras “santas” em Milagres, Jardim, Várzea Alegre, Missão Velha, Porteiras, Mauriti e Crato. “Quase todas já têm capelas”, conta Zuleide.
Sua pesquisa compara as histórias das santas, trabalhando com o que é contado pela Igreja Católica, os processos dos crimes, a memória de familiares e mulheres que alcançaram graças. “Nossa tese é que a cultura de violência se dá por esse histórico de séculos passados e com crianças”, afirma.
“A Igreja se apropriou dessas memórias para explicar uma situação de violência, alegando a guarda da virgindade. Meninas santas virgens, mas foram mortas em situação de violência igual a nossa realidade atual. Na verdade, bem pior, pois, eram crianças. Quantas santas ainda teremos?” provoca a professora.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste