O cearense Gabriel Victor, de 18 anos, estudante de escola pública e nadador com paralisia cerebral, foi aprovado no curso de curso de filosofia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele é morador do bairro Bom Jardim, na periferia de Fortaleza, e para garantir o acesso, Gabriel venceu limitações e teve que conciliar as tarefas de atleta escolar com a de pré-vestibulando.
Estudante da rede pública estadual, na Escola de Ensino Médio (EEM) Santo Amaro, a rotina do jovem começava às 5h30, todos os dias.
“Eu costumava estudar pela manhã, treinava à tarde, dormia cinco a seis horas e depois acordava para estudar”, relembrou. Em 2019, no período próximo ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Gabriel começou a frequentar um curso preparatório extra-hora aula. “O tempo que eu tinha para descansar, eu troquei para poder estudar”, completou.
Gabriel, que é nadador da Associação D’eficiência Superando Limites (Adesul), afirma sempre ter tido interesse na área da Filosofia, tendo Sócrates, Platão e Nietzsche como autores favoritos. Mas, conta ele, os amigos que fez no colégio e cursinho, também tiveram influência nessa escolha.
“Foi uma área que sempre me interessou logo de cara, uma questão de afinidade, eu decidi escolher isso para a minha vida”, pontua.
“Eu espero fazer muitos amigos, conhecer gente nova e, principalmente, agregar mais conhecimento para mim, para que eu possa me desenvolver profissionalmente e mentalmente”, falou sobre sua expectativa quanto a universidade, com sorriso largo no rosto.
Superação
Os desafios sempre estiveram presentes na vida do futuro graduando em Filosofia. Iniciaram-se junto ao nascimento prematuro e um parto demorado, que o levou a passar 40 dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Quando criança, vieram as peregrinações nos hospitais. “Pediatra, neuropediatra, oftalmologista, fisioterapia. A infância dele inteira foi em hospital”, recorda Aurilene Ferreira, mãe de Gabriel, que escolheu dedicar-se inteiramente a cuidar do filho. “E hoje a gente vê onde ele consegue chegar, né? Ele é uma lição de vida pra mim”, disse orgulhosa.
O esporte entrou na vida de Gabriel desde seus 11 anos de idade, como uma forma de fisioterapia para o estudante que possui paralisia cerebral desde o nascimento. A chance de atuar como profissional veio anos depois, quando o Comitê Brasileiro Paraolímpico começou um programa de busca de novos talentos. Agora, o desafio do atleta é conciliar a vida de estudante universitário com ser atleta na categoria adulto.
“Eu acho que não vai mudar muita coisa não, só os treinos que vão ficar mais puxados”, disse confiante em enfrentar mais essa etapa.
Ao ser questionado sobre qual escolha faria, entre esporte e universidade, caso a rotina se torna-se difícil de manter, ele declarou.
“Eu escolheria a universidade, com certeza, porque mesmo o esporte sendo uma forma muito boa de viver, não é um ambiente muito bom para se trabalhar aqui no país, porque não tem muitas oportunidades, não tem muito reconhecimento. Então é mais importante focar na formação escolar, acadêmico, para você poder ter um bom emprego, para poder se sustentar e continuar dando um suporte extra ao esporte”.
Por Beatriz Rabelo e Isabella Campos
Fonte: G1 CE