O Crato completa 255 anos de emancipação política nesta sexta-feira (21). A data marca o dia que a povoação de Miranda elevou-se à categoria de vila, como Vila Real do Crato, instalada em 21 de junho de 1764, sendo desmembrada de Icó. Depois, se tornou cidade pela Lei Provincial nº 628, de 17 de outubro de 1853.
Com uma rica história, belezas naturais, personagens marcantes e manifestações populares pulsantes, o Município é batizado como “A cidade da cultura”. Por tudo isso, é um excelente destino turístico cearense. A cidade fica a uma distância de 19 quilômetros do Aeroporto Orlando Bezerra de Menezes, na cidade vizinha, Juazeiro do Norte.
Abaixo, você conhece alguns lugares marcantes do Crato:
Caldeirão da Santa Cruz do Deserto
Localizado a 33 quilômetros da sede do Município, a comunidade do Caldeirão da Santa Cruz, liderada pelo Beato José Lourenço, acolheu cerca de 1700 pessoas que fugiram da seca. Lá havia fartura, riqueza espiritual e abundância de comida. As tarefas, seja no campo ou nas oficinas, eram distribuídas igualmente, assim como a produção. Temendo que a comunidade se tornasse um movimento messiânico, o Governo Federal, em 1937, ordenou que as Forças Armadas e a Polícia Militar do Ceará invadissem o local e o destruíssem.
Parte dos moradores foram mortos e os sobreviventes expulsos de suas terras. O beato José Lourenço e seus seguidores fugiram. Até hoje, muitos corpos não foram encontrados e não há nenhum registro oficial do número exato de vítimas. Anualmente, o lugar recebe milhares de pessoas, no mês de setembro, em Romaria.
Museu Histórico do Crato J Figueiredo Filho
Além de importante acervo, o Museu Histórico de Crato funciona na antiga Casa de Câmara e Cadeia do Município. É um das poucas edificações deste tipo que estão de pé no Ceará. Há registros que o início da construção foi em 1817. Como peculiaridade, o prédio possui uma enxovia em forma de abóbada, onde ficavam os presos mais perigosos. Está localizado em frente a Praça da Sé.
Porém, o prédio encontra-se com problemas estruturais, apresenta rachaduras e o piso da parte superior, onde funcionava o Museu de Artes, foi retirado. A Secretaria de Cultura de Crato tem um projeto de reforma para o local. Os técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) fizeram visitas e produziram uma planta arquitetônica.
Capela de São Sebastião
Em 1862, o surto de cólera chegou no Cariri, matando cerca de 2 mil pessoas. No Crato, foram 1.100 pessoas. Importante ressaltar que o centro urbano do Município tinha, na época, entre 6 a 8 mil moradores. Dois anos depois, o surto voltou a acontecer, mas matando cerca de 500 pessoas.
O Major Felipe Teles de Mendonça, temendo que a doença chegasse ao Sítio Riacho Seco – atual Sítio Currais -, prometeu que ergueria uma capela para São Sebastião caso ninguém de sua família e de seus moradores morressem. E assim aconteceu. Em 1863 começou a construção, que só foi finalizada em 1888, após sua morte. O pequeno templo fica nas margens da CE-386, a seis quilômetros do Centro da cidade.
Sítio Chico Gomes
Cultura, culinária, agroecologia e aventura. No sopé da Chapada do Araripe, a 7,5 quilômetros da sede de Crato, fica a comunidade de Chico Gomes, que trabalha, há 10 anos, com turismo rural. A localidade conta com trilhas, levadas de água, mirante e nascentes. Além disso, com forte ligação com a cultura indígena, preserva um grupo de meizinheiras que utilizam plantas medicinais e técnicas seculares na fitoterapia.
A organização comunitária começou com seu grupo de jovens articulado, desde 2006, na quadrilha junina. Depois, sentiu a necessidade de resgatar as manifestações culturais tradicionais, como as danças e canções de seus antepassados. Deste trabalho, surgiu o grupo Urucongo de Artes, que já realizou apresentações em várias partes do Cariri.
Casarão dos Esmeraldo
No Sítio Bebida Nova ainda permanece de pé uma das construções mais imponentes do Cariri, o casarão da família Esmeraldo, construído entre das décadas de 1870 e 1880, por Antônio Esmeraldo da Silva. O complexo também era formado por um engenho, que chegou a ser um dos mais ativos da região.
Sua localização, dá uma privilegiada visão do vale do Cariri e auxiliava na proteção do imóvel contra possíveis invasores ou ataques de famílias rivais. Seu estado de conservação é muito bom. O imóvel fica a cerca de 6 quilômetros da sede do Município.
Santa Cruz da Baixa Rasa
Com 105 anos de tradição, a Festa da Santa Cruz da Baixa Rasa é uma das principais celebrações de Crato e acontece, anualmente, no dia 25 de janeiro. A pé ou a cavalo, centenas de pessoas percorrem quilômetros, vindos até de cidades vizinhas, para participar do evento que ganha, cada vez mais, o caráter de romaria.
Tombada como Patrimônio Material e Imaterial do Município, a festa reconta a história de um suposto vaqueiro, vindo de Pernambuco, que montado a cavalo se perdeu de seu grupo na atual Floresta Nacional do Araripe. Os mais velhos contam que ele passou dias sem rumo e morreu de fome e de sede. Dias depois, foi enterrado ali mesmo, onde faleceu.
Uma missa no seu túmulo foi realizada e, com o tempo, a peregrinação cresceu. Ao lado de sua cova, várias outras surgiram, na medida que os fiéis pediam para ser enterradas por lá. Um verdadeiro cemitério popular no meio da floresta.
Museu Luiz Gonzaga
Mesmo falecido há 30 anos, Luiz Gonzaga ainda inspira muitas pessoas. Não foi diferente com o menino Pedro Lucas Feitosa, 14, que criou sozinho, no distrito de Dom Quintino, a 27 quilômetros do Centro de Crato, um museu dedicado ao “Rei do Baião”.
Inspirado no Parque Aza Branca, em Exu (PE), o garoto inaugurou seu museu aos oito anos de idade. Lá, reúne objetos antigos como rádio, ferramentas, máquina de escrever e, claro, fotos, cartazes, jornais, folhetos, discos e CD’s de Luiz Gonzaga. A maioria dos objetos foram doados a partir da divulgação do seu trabalho. A média de visitantes é de cinco mil por ano.
Baixio das Palmeiras
O distrito de Baixio das Palmeiras, distante 7 quilômetros da sede Crato, fica próxima do limite com Barbalha. Em território de vale, vários riachos cortam o sítio que se tornou uma importante área agrícola. Lá, também foi território de povos indígenas e é possível encontrar escrituras e pedras usadas na fabricação de ferramentas. Por causa disso, foi identificado um sítio arqueológico batizado com o mesmo nome do distrito.
O lugar possui trilhas como a do Riacho do Pinga que, no período das chuvas, forma uma bela cachoeira. Também preserva uma casa de taipa do Século XIX, que pertenceu a dona Quitéria e foi importante rota dos cangaceiros no último século, principalmente os “Marcelinos”, que rondavam a região. Já no Baixio do Muquém, que também pertence ao distrito, há uma casa de farinha de 80 anos ainda com sua estrutura mecânica manual preservada.
Primeira usina hidrelétrica do Cariri
Inaugurada em 4 de dezembro de 1938, a primeira usina hidrelétrica do Cariri foi feita na nascente do Rio batateira. Ela foi responsável por fornecer, pela primeira vez, energia elétrica ao Crato, que funcionava apenas durante a noite. No local, na década de 1980, foi criado o Balneário da Nascente.
De lá para cá, houve pouca manutenção física e, atualmente, está abandonado. A antiga casa de força da usina está em ruínas e o maquinário largado ao tempo. O mato tomou de conta. A Secretaria Municipal de Cultura planeja que o local seja tombado pelo IPHAN e tem um projeto para sua restauração. Mesmo assim, o prédio mantém seu formato original e vale a pena conhecer por sua importância histórica.
Cascata do Lameiro
Abaixo da usina, ainda no Rio Batateira, está a Cascata do Lameiro, que fica a aproximadamente 3 quilômetros da sede de Crato. Entre pedras e vegetação, se forma uma queda d’água de aproximadamente oito metros de altura. Nos primeiros meses do ano, quando mais chove, o local atrai muitos visitantes.
O acesso é livre por uma escada ou por uma pequena trilha, na beira da estrada. Abaixo da principal queda d’água, forma-se uma área ideal para banho com aproximadamente 2,5 metros de profundidade. Alguns banhistas se arriscam pulando de árvores e rochas dentro do rio.
ANTONIO RODRIGUES
Reportagem e fotos
Fonte: Diário do Nordeste