Mais rápida do que a disseminação do coronavírus pelo mundo está a propagação de notícias falsas e de teorias da conspiração sobre a epidemia.
No Brasil, os boatos chegaram antes da própria infecção, que ainda não tem caso confirmado no país. Uma mensagem de WhatsApp, com um suposto diretor do Hospital das Clínicas fazendo informações falsas sobre a doença, circula na rede social. O hospital nega a autoria.
De óleo de orégano, prata coloidal a chá de erva-doce como tratamentos naturais contra a doença e publicações sugerindo que os Estados Unidos criaram e patentearam o coronavírus, o volume de fake news aumenta à medida que a epidemia se ocidentaliza.
A constatação levou as gigantes da tecnologia Facebook, Google e Twitter a comunicar novas estratégias para conter a onda de notícias falsas.
Em comunicado à imprensa, o Facebook disse que há sete organizações parceiras fazendo a verificação de fatos sobre o coronavírus. Quando confirmam que são falsas ou imprecisas, as informações são rebaixadas nos feeds nos usuários.
“Essa situação está evoluindo rapidamente e continuaremos nosso contato com organizações de saúde globais e regionais para fornecer apoio e assistência”, disse o porta-voz do Facebook, Andy Stone, na última segunda (27).
Algumas das informações falsas circulam em grupos privados do Facebook, canais difíceis de serem monitorados pelos pesquisadores em tempo real. O post sobre o óleo de orégano, por exemplo, foi compartilhado pelo menos 2.000 vezes em vários grupos.
No último fim de semana, mais de mil usuários do Facebook entraram no grupo “Coronavirus Warning Watch” e lá trocaram teorias conspiratórias sobre a disseminação do patógeno, inclusive a de que ele seria uma estratégia de redução da população mundial. Também apareceram links de onde comprar máscaras e outros equipamentos médicos.
O Twitter também está tentando desviar os usuários de postagens sem sentido e que possam ameaçar a segurança das pessoas, direcionando-os a fontes legítimas, como os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos.
A porta-voz do Twitter, Katie Rosborough, disse que a empresa também está expandindo em regiões da Ásia um recurso que, quando o indivíduo pesquisa uma determinada hashtag, imediatamente ele é direcionado para informações de saúde autorizadas.
Apesar dos esforços, as informações falsas sobre a epidemia estão atraindo muita atenção, com alguns vídeos acumulando centenas de milhares de visualizações.
Por exemplo, um usuário do Twitter chamou o coronavírus de “doença da moda” e alegou que o governo dos EUA já tinha comprado a sua patente. Mesmo com os verificadores de fatos refutando veemente a informação, o tuíte recebeu mais de 6.000 curtidas.
No Twitter, alguns usuários com muitos seguidores compartilharam alegações infundadas de que o coronavírus se espalhou para os seres humanos por causa dos hábitos alimentares chineses. Os tuítes e vídeos exibem argumentos racistas sobre os chineses. Até o momento, os pesquisadores ainda não apontaram uma origem específica para o contágio.
O YouTube, que pertence ao Google, também disse em comunicado que seu algoritmo prioriza fontes mais confiáveis. Ainda assim, um vídeo acusando o governo norte-americano de usar o coronavírus para desviar a atenção de um eventual impeachment do presidente Donald Trump foi visto mais de 2.000 vezes.
Farshad Shadloo, porta-voz do YouTube, disse que a empresa está investindo pesadamente para criar conteúdo confiável e reduzir a disseminação de dados falsos, além de garantir que as pessoas que buscam notícias vejam primeiro as informações oficiais. Mas ela não detalha no comunicado se a empresa está adotando alguma ação mais específica sobre vídeos relacionados ao coronavírus.
Especialistas como Renee DiResta, gerente de pesquisa do Observatório da Internet de Stanford, dizem que a epidemia de coronavírus deverá ser o grande teste de como as gigantes da tecnologia vão reagir diante das fake news. Situação semelhante já aconteceu em outros surtos, como o provocado pelo vírus da zika há quatro anos.
Segundo pesquisadores da Faculdade de Medicina de Wisconsin, em Milwaukee (EUA), naquela ocasião, postagens imprecisas ou falsas sobre a doença diminuíram a popularidade de fontes mais confiáveis e autorizadas para falar sobre o assunto.
O desafio não é pequeno. Por um lado, as empresas de tecnologia argumentam que não querem agir como “árbitros da verdade”, nas palavras do presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, decidindo o que os usuários podem dizer online.
Reconhecem, contudo, que a fala totalmente livre dos usuários traz imensos riscos, particularmente nos campos da saúde e da medicina, onde as postagens, fotos e vídeos compartilhados podem moldar a maneira como os pacientes tomam suas decisões de procurar e obter os cuidados necessários.
Fonte: Folhapress