Diz o Zé Povinho que atrás do pobre corre um bicho. Pelos últimos acontecimentos no Brasil, em plena vigência da Frenocracia, correm atrás do miserável todos os animais do jogo do bicho e talvez até a roleta. De há muito a criminalidade no país é imputada aos despossuídos que se espremem nas favelas, nas palafitas, terrenos invadidos e marquises. Eles, ao invés de estudarem e procurarem emprego, segundo nossos burocratas, decidem simplesmente viver de furtos, de tráfico e assaltos, organizando-se em cartéis ou milícias. Vivem num país particular, com leis próprias, totalmente impermeável ao estado que só os visita com cassetetes, fuzis e bombas, como se fosse a um safari. Na visão vesga dos habitantes das coberturas, escolhem os descamisados este caminho por pura maldade, podiam muito bem viver nas mansões de beira mar, frequentar os shoppings mais chiques, estudar nas Universidades e Escolas particulares mais valorizadas e aplicar na Bolsa de Valores. O que lhes sobra é safadeza e o que lhes falta é iniciativa, empreendedorismo e falta de vontade. O advento da Lei Áurea de 1888, basta olhar os morros e presídios do Brasil, apenas fez com que a Escravização se atomizasse pelos campos e subúrbios, igualzinho ao que aconteceu quando se tentou acabar com a Cracolândia em São Paulo. Os novos escravos estão agora nos assentamentos, na mendicância nos sinais de trânsito, nos albergues noturnos abaixo das marquises e viadutos, no desemprego galopante e no subemprego.
Semana passada, no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, o ministro Paulo Guedes, jogou mais uma responsabilidade legal, pra cima da pobreza. Ele já tinha falado que pobre não faz poupança, sai gastando irresponsavelmente seu dinheirão por aí, ao invés de investir na Bolsa. Agora, segundo ele, ela é a responsável direta pela destruição catastrófica do Meio Ambiente no Brasil. Certamente, pensa ele com seu economês pinochetiano, os pobres, como acionários majoritários da Vale do Rio Doce, causaram intencionalmente as tragédias de Mariana e Brumadinho. Os miseráveis, também, como são os donos dos principais petroleiros do mundo, deixaram derramar o óleo que contaminou as costas nordestinas, trazendo um tragédia ambiental jamais vista. Os indigentes, por sua vez, grandes latifundiários na Amazônia e donos de grandes madeireiras e empresas de garimpo e mineração, têm tocado fogo na mata, poluído os rios, matado os índios , posseiros e líderes rurais, tudo com ajuda das ONG´s e de Leonardo de Caprio. Além de serem herbívoros vorazes, como grandes latifundiários no Brasil, os mendigos estão espalhando agrotóxicos pelos campos, plantando doenças, dizimando aves e abelhas, tudo em nome do lucro. Isso tudo tem prejudicado , sobremaneira, a imagem do país lá fora e, certamente, dificultado o processo de canonização dos grandes conglomerados econômicos, a santificação dos beatos do Agronegócio, a beatificação dos nazifascistas atualmente imponderados.
Segundo você viu em Davos, já que seu chefe — rabinho entre as pernas — não teve a coragem de enfrentar o mundo civilizado, a Desigualdade quase que dobrou no mundo na última década. Hoje pouco mais de duas mil pessoas detêm uma renda superior a mais quatro bilhões e meio de viventes. Sendo assim, ministro, a solução mais viável para resolver o extermínio nunca visto das nossas Reservas Naturais, será diminuir as nossas massacrantes desigualdades sociais. Renda mínima, salário mínimo compatível e digno, emprego assegurado, reforma agrária, Educação de qualidade universal, acesso integral aos serviços de saúde qualificados, combate implacável à pobreza e à miséria. Pronto! Teremos um Brasil sustentável, um Meio Ambiente preservado! Vamos tentar? Ao invés de eliminar o pobre, como se vem fazendo, no último ano, como política de governo, não é mais justo acabar com a pobreza?
Por J. Flávio Vieira, médico e escritor
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri