Anualmente a pressão sobre os estudantes de terceiro ano de ensino médio aumenta logo após as férias de julho. A iminência do Enem, exame nacional do ensino médio, as avaliações do SPAECE e ano sim, ano não, a do SAEB, desencadeiam nos alunos um comportamento que envolve uma miscelânea de sensações como medo, desinteresse, angústia, ansiedade, empolgação e frustração. Nessa lista uma dessas sensações é destoante, a empolgação, mas ela se explica pelo fato de que mesmo não se sentindo preparado para tamanho desafio, é o que se percebe, o estudante carrega o sonho.
Sonhar é de graça, realizá-lo é que custa caro, e por razões diversas, que vão desde as condições históricas do estudante de escola pública até à realidade individual de cada um, a preparação para tamanho enfrentamento torna-se um desafio atormentador.
Dentro das escolas a cada dez palavras, oito são Enem, as outras duas, SPAECE e SAEB, quando o ano é ímpar, e os estudantes das séries concludentes do ensino médio, neste fogo cruzado de cobranças, vão se desgastando, e se irritando, e o comportamento muda, e de tal maneira é essa mudança, que a tradicional percepção do potencial de quem até o segundo ano era promissor não é mais possível. Resultado: o caos se instala nas salas de aulas e o relacionamento professor aluno se torna insuportável do ponto de vista minimamente ideal do que se supõe o processo ensino prendizagem, o que passa a haver é tolerância por parte dos professores, tolerância em seu aspecto mais doído, como alguém que na tortura suporta a dor por saber-se inocente e espera a justiça.
É assim que os professores se sentem, tolerantes com a indiferença dos estudantes que exauridos pelas cobranças por um desempenho que eles, em sua maioria, estão longe de alcançar, agem dessa forma indiferente, numa espécie de autodefesa. E o processo segue a revelia da exaustão, à medida que o fim de ano vai chegando, as consequências vão chegando, de lado a lado, crises de ansiedade, de pânico, de irritabilidade.
Pelos corredores das escolas o que se vê são estudantes em choro convulsivos, ou não rara às vezes, num acesso de histeria e atos de indisciplina. Do outro lado, professores cada vez mais exaustos e muitas vezes desestimulados buscando em seus pares o apoio moral mister para a continuidade do trabalho. Não é segredo, nem novidade, a educação anda a passos largos para um colapso enquanto metonimicamente os seus agentes adoecem, sejam eles professores ou alunos.
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, flamenguista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










