O preço do cacau quase triplicou no último ano, obrigando a indústria alimentícia a se reorganizar para a Páscoa de 2025. Para os consumidores, o impacto vai além dos valores mais altos nos supermercados, com redução do tamanho dos ovos de chocolate e mudanças na composição dos produtos.
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A variação no preço do cacau, matéria-prima essencial para a produção do chocolate, foi monitorada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). No último ano, a alta acumulada foi de 189%, atingindo um pico de 282% no período.
Fatores climáticos e crise sanitária influenciam oferta
Os principais países produtores de cacau, como Costa do Marfim e Gana, enfrentaram oscilações climáticas severas, alternando entre períodos de chuvas intensas e secas. Essa instabilidade reduziu a produção e impactou a oferta global.
Além disso, plantações foram devastadas pelo fungo Vascular Streak Dieback, que atingiu lavouras na África Ocidental, agravando ainda mais o cenário. “Com menor oferta, o preço do cacau sobe e, naturalmente, atinge o valor do chocolate”, explica Leandro Rosadas, especialista em gestão de supermercados.
Chocolates já refletem aumento de custos
No Brasil, o impacto já é sentido nos preços. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço de chocolates em barra e bombons subiu 16,5% nos últimos 12 meses. Esse é o maior aumento registrado no setor desde a atualização do indicador de inflação oficial do país, em 2020.
Para a Páscoa, a expectativa é de que os chocolates fiquem pelo menos 12% mais caros, segundo Rosadas. “As perspectivas não são boas para a venda de ovos de Páscoa neste ano, justamente por causa dessa inflação sentida na hora de comprar os produtos”, ressalta.
Produção de ovos de Páscoa sofre queda de 22%
Com a alta dos custos, a produção de ovos de chocolate foi reduzida. A Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados) estima que 45 milhões de ovos sejam produzidos para a Páscoa de 2025, o que representa 13 milhões de unidades a menos do que no ano passado, quando foram fabricados 58 milhões.
Indústria aposta em mudanças para driblar custos
Para tentar minimizar o impacto nos preços, empresas do setor estão investindo em eficiência produtiva, automação e inovação. “Foram meses de investimento e fortalecimento de uma cadeia para entregar experiências que se adequem ao mercado e atendam aos diversos padrões de consumo dos brasileiros”, afirma Jaime Recena, presidente executivo da Abicab.
Dentre as estratégias adotadas pelas indústrias está a reduflação, prática que consiste em reduzir o tamanho dos produtos sem alterar o preço. “As empresas estão diminuindo a gramatura dos ovos e reduzindo a quantidade de cacau nos produtos para evitar que o aumento dos custos seja percebido de forma tão evidente pelo consumidor”, explica Rosadas.
Além disso, as fabricantes estão apostando em combinações com outros ingredientes. O vice-presidente de negócios da Cacau Show, Daniel Roque, destaca que a empresa ampliou o portfólio com chocolates que misturam biscoitos e outras texturas para equilibrar custos. “Apesar das estratégias de contenção, houve um aumento médio pouco inferior a 10% nos preços em relação ao ano passado”, admite.
Supermercados antecipam vendas para conter impactos
Diante do cenário de encarecimento, revendedores buscam alternativas para manter as vendas. O setor supermercadista aposta na antecipação das comercializações, iniciando as promoções já em março, como forma de suavizar a queda no consumo.
“A gente entende que haverá uma retração nas vendas. Mas, com um planejamento antecipado, é possível minimizar os impactos e alcançar bons resultados”, conclui Rosadas.
Por Nicolas Uchoa