Sempre achei que deveria existir um botão de desligar para a mente. Algo discreto, talvez atrás da orelha, que bastasse um toque suave para silenciar os pensamentos. Não precisa ser para sempre, só o suficiente para poder dormir sem revirar conversas antigas na cabeça ou refazer, mentalmente, a lista de afazeres pela milésima vez.
Já tentei de tudo: chá de camomila, meditação guiada, aplicativos de sons relaxantes. Li até um artigo que sugeria imaginar o oceano como um espelho d’água, refletindo a calma. O problema é que, no meu mar particular, sempre tem uma tempestade a caminho.
O mais curioso é que a mente ansiosa funciona como um celular com bateria viciada: descarrega nos momentos errados e entra em alerta máximo justamente quando deveria descansar. O corpo exausto, os olhos pesados, mas, lá dentro, um comitê de preocupações se reúne para debater todos os problemas do mundo – e alguns que sequer existem.
Seria maravilhoso apertar um botão e silenciar essa tagarelice interna. Mas, se pensar bem, até que seria um tanto perigoso. Se tivéssemos a opção de desligar as preocupações, será que lembraríamos do compromisso importante no dia seguinte? Será que sentiríamos aquele friozinho na barriga antes de tomar uma decisão importante?
Talvez a grande questão não seja desligar a mente, mas aprender a ajustá-la. Como um rádio antigo, que precisa de paciência para encontrar a sintonia certa. Talvez a chave não seja silenciar os pensamentos, e sim transformá-los em um murmúrio suave, em vez de um trovão ensurdecedor.
Então, sigo tentando. Conto até dez, respiro fundo, e aceito que algumas noites serão barulhentas. No fim das contas, quem sabe, o segredo não seja procurar um botão de desligar, mas sim encontrar um jeito de dançar com o caos sem tropeçar tanto.
E, se nada funcionar, sempre existe o plano B: colocar uma música boa, fechar os olhos e fingir que a tempestade lá dentro é só um vento leve soprando as preocupações para bem longe.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










