Há dias em que a tristeza parece ser nossa única companhia. Ela se instala, silenciosa, como um hóspede indesejado. Levantar da cama vira uma batalha e até o simples ato de respirar pesa. Chamam isso de depressão, mas quem vive sabe que é mais que um nome: é um vazio profundo, um silêncio barulhento que ocupa cada canto do ser.
Foi num desses dias que ouvi falar sobre a “mágica” dos exercícios físicos e da alimentação saudável. Confesso que torci o nariz. “Como pular numa academia ou comer salada pode resolver um buraco na alma?”, pensei. Mas, como quem procura um fio de esperança, decidi tentar.
Na primeira caminhada, o corpo reclamou. Os pés pesavam, o coração disparava com qualquer ladeira, e a mente insistia: “Isso não vai mudar nada”. Mas algo curioso aconteceu. Ao final, havia uma fagulha — mínima, mas real — de leveza. Era como se, entre um passo e outro, algo tivesse escapado da prisão interna.
Continuei. Caminhada virou corrida. Alongamento virou yoga. Cada movimento parecia destravar não só o corpo, mas também a mente. Descobri que, ao me concentrar na respiração ou no ritmo do exercício, os pensamentos cinzentos davam lugar ao presente. Por alguns minutos, eu estava ali, viva, sem os grilhões invisíveis que me puxavam para baixo.
E a comida? Ah, essa foi uma surpresa ainda maior. Descobri que alimentar o corpo é, de certa forma, alimentar a alma. Troquei os pacotes e os refrigerantes por pratos coloridos. Descobri o sabor real dos alimentos e, com ele, um pouco mais de amor próprio. Não foi uma mudança instantânea; era como regar uma planta ressecada. Mas, aos poucos, percebi que as folhas estavam ficando mais verdes.
Claro, não foi só isso. O caminho incluiu ajuda profissional, terapia, apoio de amigos e dias ruins que insistem em aparecer. Mas os exercícios e a alimentação saudável se tornaram pilares, companheiros fiéis nessa jornada.
Hoje, quando a tristeza bate à porta, eu a recebo com menos medo. Respiro fundo, calço os tênis, coloco a música favorita e deixo o corpo falar o que a alma ainda não consegue. Porque, quando o corpo dança, a alma respira. E, às vezes, esse pequeno respiro é tudo o que precisamos para seguir em frente.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri