Nota: Na semana passada escrevi a primeira parte desse artigo, que pode ser lido aqui. Leia abaixo a continuação. Desejo uma boa viagem ao passado!
Os anos 80 também eram marcados por uma espontaneidade que parece difícil de encontrar hoje em dia. Era a década das paqueras no clube, dos flertes ao vivo, sem a mediação de telas. A comunicação direta, os encontros casuais nas esquinas ou nos corredores da escola faziam cada conversa parecer uma aventura. Um telefonema de longa distância? Um acontecimento! E quem nunca passou horas ao lado do telefone esperando aquele “alô” especial, se revezando entre expectativa e o medo de alguém em casa pegar a linha?
Ah, e o telefone com fio, preso à parede, limitava o quanto você poderia andar pela casa enquanto falava. Não era possível levar a conversa para longe dos ouvidos curiosos da família. Tudo era mais “manual”, mais humano, mais simples.
A moda, então, era um espetáculo à parte. Nada era discreto ou tímido — as cores eram vibrantes, as roupas ousadas. Camisetas de bandas, calças de cintura alta, jaquetas jeans e ombreiras que faziam qualquer um parecer mais alto e confiante. Nos pés, tênis All Star, Kichute, ou os famosos mocassins, sem contar o cabelo — que, em muitos casos, parecia competir com as nuvens de tanto laquê que usávamos! O visual era uma afirmação, um grito de liberdade que ecoava através das ruas, e cada um parecia construir sua própria identidade, sem se importar em seguir tendências uniformes.
A trilha sonora da década? Inesquecível. Queen, Michael Jackson, Madonna, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso… A música dos anos 80 é uma verdadeira viagem no tempo. Era como se cada canção capturasse um pedacinho de quem éramos, nossas angústias, paixões e sonhos juvenis. Quantas vezes não ficamos deitados na cama, fones de ouvido apertados, imaginando um futuro distante, embalados por acordes que pareciam entender nossa alma melhor do que qualquer conversa?
Havia também o cinema, cheio de aventuras inesquecíveis. Filmes que nos faziam sonhar com mundos distantes e que, de alguma forma, tornaram a realidade mais mágica. Era a época de ir à locadora, andar pelos corredores procurando uma fita VHS para o final de semana, escolhendo com o mesmo cuidado que se escolhe um presente. E, claro, havia o ritual de “rebobinar antes de devolver”, como uma regra sagrada.
O mais interessante é que, mesmo com toda a nostalgia, o que mais se destaca daquela época é o senso de comunidade. Tudo era mais compartilhado, mais coletivo. Não havia redes sociais, mas havia uma rede invisível de laços e cumplicidade que conectava amigos, vizinhos e até mesmo estranhos. As pessoas se conheciam pelo nome, e uma ida ao mercado ou à padaria era uma oportunidade para bater papo e dar risada.
Os anos 80 não foram apenas uma década de neon e hits radiofônicos. Foram anos em que a vida parecia fluir mais devagar, em que os dias eram longos e as possibilidades, infinitas. Fomos moldados por aqueles tempos, e, mesmo que eles tenham ficado para trás, as lições, as memórias e a alegria daquele período continuam pulsando dentro de nós, como o refrão de uma música que nunca deixa de tocar.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri