Ah, os anos 80! Tempos de cores vibrantes, ombreiras enormes e cabelos que pareciam desafiar a gravidade. Era uma década de exageros e autenticidade, em que cada dia parecia uma aventura única, recheada de descobertas. Para quem viveu, os anos 80 não foram apenas uma época — foram uma sensação, uma maneira de existir em um mundo onde tudo parecia possível.
Lembro-me bem das manhãs passadas em frente à TV de tubo, esperando ansiosamente pelo Xou da Xuxa. Aquela nave espacial rosa, as paquitas dançando ao som de músicas que grudavam na mente. E os seriados? Se você nunca tentou construir um carro com asas depois de assistir a Esquadrão Classe A ou Profissão Perigo, será que viveu os anos 80 de verdade? Cada episódio trazia lições de improviso e criatividade que, no fundo, inspiravam a molecada a resolver qualquer problema com um canivete e um pedaço de fita adesiva.
Falando em criatividade, as brincadeiras de rua eram a alma da infância. Não havia tablets, celulares ou redes sociais. Era pura adrenalina, com jogos como pique-esconde, que reuniam a vizinhança inteira. As ruas eram seguras, as crianças pertenciam ao mundo lá fora. Ficávamos até tarde jogando bolinha de gude ou apostando quem era o melhor no pular corda, enquanto as mães, com aquela paciência infinita, gritavam das janelas para voltarmos antes do jantar.
E que trilha sonora! A música dos anos 80 tinha algo de mágico. Era uma década onde as bandas de rock, pop e eletrônica dominaram as paradas. Legião Urbana cantava sobre a nossa juventude perdida, enquanto Kid Abelha narrava as incertezas e sonhos de quem começava a descobrir o amor. Internacionalmente, tínhamos Michael Jackson, Madonna, Prince — ícones imbatíveis que transformaram cada festa em um espetáculo. Quem nunca dançou no embalo de “Like a Virgin” ou tentou imitar o ‘moonwalk’? Os clipes na MTV, um canal novinho em folha, traziam artistas para dentro de casa e nos faziam sonhar com aquele brilho distante.
Ah, os filmes! Ir ao cinema nos anos 80 era como entrar em um portal para mundos extraordinários. De Volta para o Futuro, Os Goonies, Caça-Fantasmas… não eram apenas filmes, eram jornadas que nos transportavam para além do ordinário. E as locadoras? Não havia nada mais empolgante do que passar a tarde escolhendo uma fita VHS para assistir no fim de semana, com aquela ansiedade de quem ia viver uma grande aventura no sofá de casa.
Os anos 80 nos ensinaram a viver o presente. Havia uma energia contagiante, uma crença genuína de que, de alguma forma, o futuro seria incrível — mas o agora era ainda melhor. Estávamos juntos em tudo: seja compartilhando um refrigerante gelado no calor, assistindo ao último episódio da novela ou esperando o primeiro videocassete ser rebobinado para assistir de novo aquele clipe favorito.
E quando olho para trás, com uma saudade que aperta o peito, entendo porque os anos 80 foram os melhores de nossas vidas. Não era apenas a moda, a música ou as gírias. Era o espírito coletivo, a inocência compartilhada, a alegria de estar com os amigos, sem pressa, sem filtros, sem hashtags. O tempo passava devagar e cada dia era uma aventura em cores neon.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri