“Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!”
(Poema “Cântico Negro”, de José Régio)
Nada sei além
do meu retrato 3×4 no RG
no verso um nome, dito, meu.
Fora isso sou apenas
Um amontoado de números
que me impuseram ao longo do tempo.
Me pedem calma, ordem
Logo eu esse desalinho
Pura tempestade
Que não me digam:
Mar calmo faz bom marinheiro!
Que glória existe em seguir
quando o caminho é plano
e a estrada é reta?
Ser o mesmo, repetir
Sem ousar a travessia além
até outras margens
E a visão de outras paisagens
E se o Diabo estiver certo
Pois sendo tudo de Deus criado
não é este pois parte de sua criação?
Não me digam palavras
como se fossem verdades absolutas.
Não creio em nada que não sejam
frutos de minhas próprias dores
ilusões, desenganos
Emoções sentidas
Não me peçam
Certezas
Sou essa imensidão em meio
ao nada
Onde tudo resta a ser feito
Cheio de cansaços
e a soma de tantos passos
Que não sei onde me levam
Sem saber para onde vou
Só sei que não vou por aí
Por onde todos vão!
Por Fabiano Brito. Cratense, cronista e poeta com três livros publicados: “O Livro de Eros”, “Ave Poesia” e “Lunário Nordestino” (Editora UICLAP)
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri