Status, palavra latina que significa posição de pé, estado, situação, condição. Acrescenta-se o adjetivo também latino quo, atual, dai vem status quo, ou estado atual. E ouve-se por ai que fulano luta para manter o status quo, e concebe-se como algo positivo, e que beltrano já não apresenta o mesmo status quo de outrora, e tem-se que algo não anda bem.
Mas não é este tipo de status que me faz refletir. Certo cronista, a quem devo muito do que aprendi, disse nas entrelinhas de certa fala sua que as crônicas nascem da observação do efêmero e dos impactos que as situações observadas causam na gente. Pois bem, estive observando os status de meus contatos de Whatsapp e percebi o quanto as pessoas se expõem neles. Mas percebi muito mais.
Percebi que não importa a classe social, a profissão, o gênero, a idade. Cada pessoa carrega o seu dilema, e uma das maneiras de conviver com ele, ou superá-lo, perpassa por compartilhá-lo à revelia com seus contatos através de seus status.
Percebi, entretanto, o que se tem visto é menos leveza, e muita amargura. Temos uma sociedade doente, vê-se claramente, na semiótica que reside em certas frases de autoajuda nos status, ora soando otimista, mas subjazendo ao otimismo aparente um verdadeiro pedido de ajuda, ora destilando veneno em indiretas certeiras nos prováveis desafetos.
Mas o que está acontecendo com a humanidade? Ou será que sempre fomos assim e com o advento das redes sociais sentimo-nos à vontade para levar ao mundo nossas agruras, pedindo ajuda em códigos Morse, na esperança de que haja quem nos entenda? Ou atacando à revelia aqueles que nos desperte a ira, ou o ódio? Definitivamente não sei.
Mas percebi que a moça que usa aquelas frases de desabafo iniciada pelo verbo “chega”, não é que ela esteja cansada de implorar, ela está dizendo que tem muito amor em seu coração à espera de um alguém que está demorando a perceber, ou está dizendo que perdoa o que talvez um rapaz tenha feito. Ela diz: – vem, vamos tentar de novo, eu te perdoo.
Percebi que o homem que tem postado vídeos de baladas, bumerangues em happyhour, selfs com a galera; é o mesmo que tem reiteradamente pedido força a Deus para superar aquela realidade na qual verdadeiramente está vivendo: a solidão! Ele não passa de um adolescente tentando se auto afirmar.
Percebi que as pessoas têm muita fé nas palavras, e isso é bom, mas está faltando ação. Percebi que poucas pessoas ou não têm noção do que seja paradoxo, ao ponto de numa sequência de imagens postadas, ir do céu ao inferno; ou estamos diante de um comum caso de bipolaridade pré-depressiva.
Percebi que há muita gente sensata no mundo. Muita gente palhaça. Muita gente judiada. Muita gente humilhada. Muita gente assustada. Muita gente mal intencionada.
Percebi que sempre há um alguém à espera da sua próxima publicação de status. Percebi que “O pequeno príncipe” é o livro mais citado nos status, embora nunca tenha sido lido pela maioria que o cita. Percebi que muitos universitários são fatalistas. Percebi que tem gente que verdadeiramente gosta de livros.
Percebi que todo mundo tem conselhos para os problemas alheios, mas não resolvem os seus próprios. Percebi que há analistas de status. Percebi que há empreendedores nos status. Percebi cantadas nos status. Percebi que ciclistas gostam de postar status. Boleiros gostam de postar status. Percebi que há pessoas que postam tantos status na academia que acho até que nem treinam.
Percebi que Rolland Barthes tinha razão, as pessoas buscam se eternizar num momento de self. Percebi que há pessoas que printam os status do outro para usar como provas. Percebi que há pessoas que pedem autorização para usar as nossas postagens de status. Percebi que há poetas publicando nos status. Percebi que há pessoas que comentam os status.
Por fim, além de muitas outras coisas, percebi que o status é um novo gênero discursivo, tal e qual como Bakhtin nos ensinou, instável, carregado de hipergenerecidade, dotado de intergenerecidade, o status faz-nos transitar por diversos outros gêneros. Fico imaginando daqui a alguns anos, a gente lembrando: – Lembra quando a gente postava aqueles status. E ai nosso status quo estará antiteticamente ultrapassado!
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri