O número de queimadas, no Ceará, registrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nestes 11 meses de 2019, já é superior ao montante de todo o ano passado. Até ontem (28), o órgão havia contabilizado 3.421 focos de incêndios – 387 a mais do verificado ao longo de 2018. O quadro pode ficar ainda mais grave. Isto porque, em dezembro, a quantidade de queimadas ainda tende a ser elevada. Caso a média para o último mês do ano se mantenha, 2019 pode bater o recorde dos últimos cinco anos, que é liderado por 2016, quando 4.316 focos foram registrados pelo Inpe.
Diante de tantos incêndios, os impactos ambientais são gravíssimos e, em alguns casos, os danos são irreversíveis para a fauna e flora do semiárido. Para especialistas, a alta quantidade de focos poderia ser reduzida caso houvesse “conscientização da população”, conforme pontua o diretor do Instituto de Convivência com o Semiárido, Osvaldo Andrade. O tenente-coronel do Corpo de Bombeiros de Iguatu, Nijair Araújo, assente e acrescenta que a maioria destas queimadas tem ação antrópica, seja de forma criminosa ou quando agricultores põem fogo na mata com o objetivo de preparar a terra para o cultivo na próxima quadra chuvosa, que se inicia em fevereiro e segue até maio.
Resistência ecológica
Em Quixadá, município cearense que está entre os 20 apontados pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) com alto risco de incêndios florestais, ambientalistas estão investindo na implantação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), cujos objetivos são promover a conservação da diversidade biológica, a proteção de recursos hídricos, o manejo de recursos naturais e a manutenção do equilíbrio climático e ecológico.
A iniciativa para criação da Reserva depende que pessoas físicas ou jurídicas, proprietárias de imóveis rurais ou urbanos, demonstrem potencial para a conservação da natureza. Quando a área se torna uma RPPN, esse status de proteção privado passa a ser é perpétuo.
Educação Ambiental
A multiplicação desses espaços, segundo Andrade, é benéfica, pois diminui a área florestal que futuramente poderia vir a ser queimada com a ação do homem. A ambientalista Letícia Menescal reconhece a importância de transformar áreas da caatinga em RPPNs, mas vai além. Ela destaca que a educação ambiental ainda é deficitária nas escolas cearenses e, “que se investíssemos na conscientização a partir da escola, os resultados seriam significativos”.
Lindalva Cruz, coordenadora das Ações de Educação Ambiental da Coordenadoria de Gestão Pedagógica de Ensino Médio (Cogem), órgão da Secretaria de Educação do Ceará (Seduc), concorda com a análise da ambientalista e destaca que atualmente há “uma série de atividades curriculares desempenhadas com os estudantes da rede de ensino estadual cujo objetivo é alertar sobre a importância da preservação do meio ambiente”.
Um deles é o Selo Escola Sustentável, pelo qual as unidades educacionais estão se cadastrando e desenvolvendo atividades nessa área.
“Nas escolas, é trabalhada a formação desses jovens quanto à questão ambiental com finalidade pedagógica. Aprendendo, os alunos podem ensinar aos pais a maneira correta de preservar a natureza”, finaliza Lindalva.
Fonte: Diário do Nordeste