Rica principalmente em vitamina A, a cenoura também possui outros nutrientes como as vitaminas B, C e K, além de sais minerais como o potássio, sódio, cálcio e magnésio. Mas, é outro componente, o betacaroteno, bem menos conhecido, que está sendo objeto de estudo no Centro Vocacional Técnico (CVTEC) do Instituto Centec de Barbalha, na região do Cariri. O componente presente na cenoura ajuda a manter a pele e os cabelos saudáveis.
Diante desses benefícios, a pesquisa está difundindo a produção de óleo a partir do vegetal para o uso capilar. Além disso, um xampu também está em fase de experimentação.
A ideia de explorar os nutrientes da cenoura surgiu a partir de uma análise do curso técnico em meio ambiente da instituição, realizado em 2017, e, agora, os resultados começam a ganhar fama. Observou-se que o cultivo da cenoura orgânica no Cariri era pouco aproveitado devido ao solo não ser favorável. Além disso, há também rejeição por parte dos consumidores em função das ramificações.
Diante desses fatores, alunos começaram a estudar meios de reaproveitamento da planta. A partir dessas análises, identificou-se a possibilidade de utilização completa do legume, isto é, da raiz até a folha – parte mais nutritiva da cenoura.
Em posse das informações colhidas, a professora Regina Cassundé, e suas três monitoras, as estudantes Suely Gonçalves, Verônica Gonçalves e Camila Soares, todas de Barbalha, começaram os testes para extração dos nutrientes da cenoura. Elas utilizaram o óleo extravirgem e de girassol para auxiliar a obtenção dos nutrientes. O grupo experimentou duas formas de extração para formar o óleo: a quente e fria. O segundo processo garantiu a melhor conservação, principalmente da vitamina B2, fundamental para o objetivo do estudo que era aplicá-lo no tratamento capilar.
Processo
O trabalho começa no campo. As três garotas cuidam da horta, colhem os legumes e levam até o laboratório. Depois lavam, tiram as folhas, raízes e ramificações, e, por último, a cenoura é processada em pequenas tiras. Para 250 ml de óleo de girassol, são utilizadas 300 gramas da planta. Em um recipiente, segue até a geladeira e fica por 48 horas em temperatura abaixo de 0º.
Ano passado, o óleo foi usado em teste sensorial e o resultado, até agora, tem sido positivo. Um questionário foi entregue às pessoas que fizeram uso do produto. “A gente analisou quanto tempo a pessoa passou utilizando, quantidade, a sedosidade, se notou ausência de queda de cabelo e se melhorou a hidratação”, diz Regina. A pesquisa foi utilizada em feiras do Crato e também em Fortaleza. “Os testes foram um sucesso”, resume a docente.
Do laboratório, os frascos partiram para os salões de beleza de Barbalha, onde foram disponibilizados para testes com cabeleireiras. A iniciativa partiu de Suely Gonçalves, que mapeou dez dos principais estabelecimentos do Município e articulou um convênio para fornecer o óleo. “As clientes pedem sempre. Aconteceu exatamente da forma que a gente esperava”, conta a estudante.
O sucesso da pesquisa motiva a estudante Verônica Gonçalves que, diariamente, pega três ônibus para chegar ao CVTEC, saindo de casa, no Sítio Água Fria, às cinco da manhã e só retornando à noite. “Aqui é um local de experimentos, de pesquisa. Isso me faz sair de onde moro, que é muito longe, para vir em busca dos meus sonhos”.
Foi dela a ideia de participar da Feira de Economia Solidária que acontece, toda sexta-feira, no Centro de Barbalha, na Escola dos Saberes.
Ali, junto com outros itens orgânicos, comercializa o óleo e outros produtos desenvolvidos no laboratório do CVTEC. Cada frasco de 37 ml custa R$ 5. O dinheiro ajuda a bancar o trabalho. “Todas as pessoas que compraram voltaram e elogiaram”, garante Verônica.
Expansão
O xampu é agora a nova aposta da equipe. Ele é feito com o produto capilar neutro, adicionando a B2 extraída da cenoura. “Ainda não tem previsão de sair. A gente vai procurar aumentar o escoamento”, justifica Regina Cassundé. A efetividade de todos esses experimentos será colocada à prova, de forma definitiva, no próximo ano, durante estudo laboratorial.
“Os resultados mostrarão a eficácia do óleo no combate à queda de cabelo, por exemplo”, ressalta Camila. Outros testes também já estão em andamento. “Já experimentamos o produto para hidratação da pele e bronzeamento”, conclui Camila.
A cenoura não é o único objeto de estudo. As três alunas também produzem amaciante de roupas feito à base de restos de sabonetes. “As pessoas costumam jogar fora. Como tem glicerina, o sabonete causa um dos maiores impactos aos animais aquáticos. Por isso, passamos a reutilizar”, explica Camila.
Desenvolvida para cultivar as plantas, outro foco de estudo é a compostagem que utiliza a folha de cenoura. Do óleo de cozinha usado, as pesquisadoras também fabricam um sabão ecológico, vendido a R$ 2. São diversas frentes pesquisadas com o objetivo comum de reaproveitamento máximo e preservação da natureza.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste