A primeira notícia de um Carnaval de Rua no Crato data de 03 de março de 1857, no Jornal “O Araripe”. Falava o artigo sobre o “Entrudo”, fazendo críticas acerca do anarquismo da festa popular. Junto criticava outras manifestações da Cultura de Tradição como o Farricoco, o Papangu, o Judas, o Boi, o São Gonçalo, sonhando que deveriam ceder lugar, num futuro próximo, “para manifestações mais honestas e civilizadas”. O Crato tem assim, oficialmente, uma tradição de quase dois séculos de Carnaval de Rua, festa que se foi consolidando com o aparecimento dos primeiros Blocos no início do Século XX e que teve seu apogeu entre os anos 50 – 70 dos Novecentos. A cidade então fervilhava de blocos, tinha Corsos animadíssimos e o Carnaval de Clube mais efervescente de todo o Sul Cearense. A derrocada político-econômica da cidade contribuiu para que aos poucos, a partir dos anos 90, a festa fosse a cada ano murchando e virando uma reles história do passado.
Nos últimos anos, no entanto, vem se observando um esforço de alguns segmentos da cidade em reviver aqueles tempos gloriosos. São Paulo, Belo Horizonte e o Rio de Janeiro já estão correndo em busca da magia da rua. Aqui, o primeiro passo importante foi o Carnaval da Saudade promovido pelo Crato Tênis Clube que vem acontecendo, religiosamente, no Sábado Magro, há mais de dez anos. Note-se, ainda, o Desfile das Virgens, festa que tem se mantido firme e, ano após, ano, vem se espalhando pela cidade. Tem-se percebido, também, uma tentativa de recomposição dos Blocos de Rua como o Pé de Jambo, De Juarez a Juarez, Humor Político, 1º Grito, entre outros. A Prefeitura Municipal tem programado, ainda, um pólo de animação na Praça Siqueira Campos, com a apresentação de bandas locais e outras apresentações em bairros da cidade, conseguidas através de editais da Secult. Sabemos que toda ação destruidora é muito mais rápida e eficaz que o esforço da reconstrução, mas parece alentadora a luta pelo retorno de uma festa de tanta tradição na nossa cidade.
A revitalização passa pelo Carnaval de Rua que é a alma da festa. A rua é que cria o clima de alegria e descontração. As festas clubísticas são mais fechadas e menos inclusivas e carregam consigo sempre aquele gosto insosso do isopor. É preciso que a administração municipal se sensibilize com a certeza de que o Carnaval bem além de diversão, festa e alegria é, principalmente, um investimento turístico importante. Gerador de renda, envolve uma vasta cadeia de trabalhadores: pequenos comerciantes, hotelaria, bares, restaurantes, lanchonetes, músicos, artesãos de fantasias e adereços, produtores, empresários de material musical, iluminação e som. E com vasta possibilidade de patrocinadores.
Os próximos passos para revitalizar o Carnaval seriam o apoio aos Blocos e Escolas de Samba, a criação de desfiles e premiação e a utilização do Palco da Expocrato para fazer a continuidade da Folia, com bandas e artistas consagrados e locais, varando a noite nos quatro dias de Momo. E, claro, uma festa gratuita, aberta para todos, com a segurança devida. Como seria possível? Tudo é possível quando a alma é sensível. Basta seguir os rumos do Festival de Inverno de Garanhuns e do Carnaval de Olinda e Recife.
O Carnaval está na alma do povo cratense, os barris de pólvora estão espalhados por todos espíritos, basta o poder público acender o estopim. Para que o povo caia no passo é preciso apenas que o governo dê os primeiros passos.
Por J. Flávio Vieira, médico e escritor. Membro do Instituto Cultural do Cariri (ICC). Agraciado com a Medalha do Mérito Bárbara de Alencar
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri