A aposentadoria oficial vai pagar menos depois da reforma da Previdência e isso vai obrigar o brasileiro a poupar mais por conta própria. Assim, a poupança privada do país, que leva em conta as economias dos brasileiros, pode aumentar em R$ 480 bilhões nos próximos 10 anos. A estimativa é da consultoria Mercer, que calculou esse impacto com base em estudo do FMI (Fundo Monetário Internacional).
O organismo internacional analisou reformas similares em diversos países e concluiu que 60% da economia esperada pelos governos com mudanças nas regras para a aposentadoria podem se transformar em poupança privada.
O líder de Desenvolvimento de Produtos da Mercer Brasil, Guilherme Gazzoni, declarou que com regras menos generosas para aposentadoria após a reforma da Previdência, os brasileiros são obrigados a poupar mais para a velhice.
“Sistemas de previdência pública mais generosos não incentivam a formação de poupança privada. No Brasil, muitas pessoas continuam cobertas pela Previdência Social após a reforma, mas outro grupo significativo terá benefícios com valores menores a partir de regras de acesso mais rígidas”, afirmou Gazzoni.
Regras mais duras para se aposentar
Com a reforma da Previdência, a regra de cálculo da aposentadoria considerará todos os salários de contribuição, o que reduzirá o valor do benefício. Nas regras ainda vigentes são levados em conta os 80% maiores salários de contribuição. Além disso, após a promulgação da emenda constitucional, quem cumpre os prazos mínimos de 62 anos (mulher) ou 65 anos (homem) e 15 anos de contribuição tem direito a 60% do valor do benefício.
Mulheres ganham mais 2% a cada ano trabalhado depois dos 15 anos de contribuição, e homens após os 20 anos de contribuição. Assim, para receber 100%, mulheres terão que contribuir por 35 anos, e homens por 40 anos.
O líder de Previdência da Mercer Brasil, Felipe Bruno, afirmou que essa realidade levará a uma redução do valor médio dos benefícios pagos pela Previdência pública e mais trabalhadores precisarão poupar para complementar a renda na velhice.
“Outro indicador importante que mostra espaço para crescimento da poupança privada é o tamanho do sistema de previdência complementar de um país. No Brasil, os fundos de pensão e a previdência privada totalizam R$ 1,8 trilhão, o que equivale a 25% do PIB [Produto Interno Bruto]. Em países como Dinamarca e Holanda, o sistema de previdência complementar ultrapassa 100% do PIB. Há espaço para crescimento”, disse Bruno.
Juros baixos exigem mais investimentos
Os brasileiros precisarão ter a consciência da necessidade de poupar para a velhice, afirmou Gazzoni. Segundo ele, em um ambiente de juros baixos, que tornar as aplicações de renda fixa menos atrativas, os brasileiros precisarão diversificar os investimentos para ter uma rentabilidade maior.
“A poupança já oferece juro real negativo. Quem acha que está fazendo um bom trabalho de longo prazo perderá dinheiro. Mais do que nunca, a educação financeira é importante para que as pessoas saibam como investir”, disse Gazzoni.
Diante desse ambiente de mudanças, Bruno declarou que muitos trabalhadores buscam nas empresas em que trabalham aconselhamento sobre como investir. Segundo ele, pesquisa da Mercer em 11 países que inclui o Brasil concluiu que 79% dos trabalhadores buscam os empregadores como fonte para investir.
“Fizemos uma pesquisa com 611 grandes e médias empresas brasileiras e só 45% delas oferecem previdência complementar para os empregados. A gente pode supor que nas pequenas e médias esse percentual seja ainda menor. Desde o início do debate da reforma temos sido demandados por empresas de portes distintos que querem saber como oferecer produtos para os empregados. Esse tema está em alta”, disse. Bruno.
Pobres não conseguem poupar
Essa previsão de mais poupança vale para a classe média, que tem sobras para investir. Pobres não conseguem fazer isso porque consomem seu orçamento na sobrevivência.
Gazzoni declarou que a população de baixa renda não terá incentivos a poupar porque está coberta pela Previdência e tem pouco espaço no orçamento para economizar.
Dados do IBGE mostram que as famílias com rendimento de até dois salários mínimos comprometem 61,2% do orçamento com alimentação e habitação.
Fonte: UOL