A oferta de cursos gratuitos de inglês e espanhol torna mais acessível este aprendizado que, por muito tempo, esteve segregado a algumas camadas sociais. Para promover o ensino, foram criados, no ano passado, Centros Cearenses de Idiomas (CCIs). Em Crateús, Itapipoca e Iguatu os equipamentos foram projetados para atender até 1.050 alunos por unidade. Em Juazeiro do Norte o número sobe para 1.750. Porém, diferentes fatores fazem com que partes dessas vagas não sejam totalmente preenchidas.
No CCI de Iguatu, na região Centro-Sul, a unidade conta com apenas 307 alunos matriculados nos dois cursos: Inglês (254) e Espanhol (53). Segundo Sirlânia Ferreira, secretária escolar do CCI, o número reduzido na procura pode ter mais de um sintoma. “Iguatu tem muitas escolas de tempo integral e isso faz com que a demanda seja maior no curso da noite. Nós não temos como atender todos”, explica.
Além disso, o fato do curso ser novo e “não ter tido inauguração”, fator que, segundo a secretária, ajuda na divulgação, faz com que “muitos pais ainda não saibam da existência do Centro”. Sirlânia pontua que, para solucionar o problema, a unidade está em contato com a Secretaria de Educação (Seduc) do Ceará para poder potencializar os cursos diurnos e ofertar o serviço a outros municípios a partir do próximo ano.
Vagas ociosas
Em Itapipoca e Crateús a realidade se repete. Segundo a diretora Analice Albuquerque, 721 estudantes estão matriculados em Itapipoca. Apesar de mais de 300 vagas estarem ociosas, ela pontua que o curso promove o “fortalecimento do currículo do ensino médio e a maior inserção no mercado de trabalho”. Em Crateús o total de vagas ociosas chega a 590 – são 460 jovens atendidos na unidade. As vagas ficam disponíveis para estudantes de escolas públicas a partir do 1º ano do Ensino Médio.
A diretora da unidade de Crateús, Naedja Pinheiro, destaca os benefícios do curso pela “ampliação do repertório cultural e linguístico dos jovens, em especial, aqueles que residem no interior do Estado”. Já o CCI de Juazeiro do Norte tem capacidade para atender 1.750 estudantes porém, o número de vagas ociosas ainda é grande: 450.
O coordenador pedagógico Marcos Aurélio justifica a vacância de tantas vagas pela evasão presente nesse período do ano. “Nós temos alunos do 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio. Os alunos que vão fazer o Enem geralmente acabam deixando o curso perto do Exame”.
Além disso, o coordenador pontua que “outros desistem porque precisam trabalhar ou têm dificuldade com as passagens”. A diretora da unidade, Rosa Maria Machado, destaca que o curso é um complemento ao desenvolvimento local do Município ligado ao turismo religioso. “Juazeiro do Norte é uma cidade desenvolvida e isso favorece bastante a entrada no mercado de trabalho, principalmente no turismo, que é muito forte”, pontua a diretora, que destaca a “inclusão social por meio da oportunidade para quem nunca teve acesso”.
Oportunidade
Para os que abraçaram a oportunidade, o resultado tem sido positivo. O estudante do 2º ano do Ensino Fundamental, José Roberto de Araújo, 17, se desloca pelo menos duas vezes por semana do Sítio Timbaúba, distrito de Alencar, para cursar inglês em Iguatu. “A equipe foi na minha escola e anunciou o curso. Eu tive interesse, porque é bom para fazer o vestibular”, recorda o secundarista já projetando o futuro profissional: “quero ir pra área de Tecnologia e um novo idioma é bom porque a maior parte vem de fora do Brasil”.
Thalia Nunes de Oliveira, 18, vivencia realidade semelhante em Juazeiro do Norte, na Região do Cariri. Ela conta que a expectativa para ingressar no mercado de trabalho aumentou após ingressar na unidade. “Eu quero ser professora de Inglês e depois que eu comecei o curso já surgiram oportunidades de trabalho. Quem tem um segundo idioma sai na frente e eu acho importante que todo mundo possa fazer o curso”, pontua.
Ela está matriculada no 2º ano do Ensino Médio e afirma os benefícios trazidos: “depois que comecei o curso, minha mente abriu para saber outras coisas”.
Mercado de Trabalho
O especialista em mercado de trabalho Antenor Tenório explica que a atualidade exige ainda mais interações culturais. “O interesse pessoal se alinha ao mercado de trabalho e daí vem a importância de novas culturas e experiências que acabam agregando o currículo”, detalha o especialista, explicando que os estudantes que têm essa experiência chegam ao mercado com a “cabeça aberta para inovação, protagonismo e defesa de direitos”, acredita o profissional.
De acordo com ele, a política dos Centros Cearenses de Idiomas é positiva. “Há uma deficiência grande já que nem todo mundo tem condições de pagar o curso”. Além de proporcionar novas experiências, a presença do segundo idioma no currículo tem um impacto considerável no aspecto salarial, considera o especialista.
Segundo Antenor Tenório, “em termos de salário médio, ter domínio de outra Língua acrescenta cerca de 30%”, explica o especialista, pontuando que “há uma limitação de empregos para a Capital e municípios da Região Metropolitana”.
Fonte: Diário do Nordeste