É engraçado como os olhos da memória pintam o passado com cores mais vívidas, como se a infância fosse um tesouro escondido que só entendemos o valor quando já estamos distantes dela.
Lembro-me das tardes intermináveis, em que o sol parecia dançar pelo céu enquanto eu e meus amigos brincávamos sem preocupações. Era como se o tempo se alongasse em consonância com nossos risos e aventuras. O quintal da casa dos meus avós era um mundo inteiro a ser explorado, com árvores que alcançavam o céu e esconderijos secretos sob folhas caídas.
Ah, as brincadeiras! Pega-pega, esconde-esconde, amarelinha e tantas outras que enchiam nossos dias de alegria. Lembro-me do cheiro da grama recém-cortada e do sabor das frutas colhidas diretamente do pé. Cada riso era um elo forte que tecíamos no tear do tempo, e esses laços continuam a nos unir, mesmo quando a vida nos afasta.
E se pudéssemos voltar no tempo? Um desejo comum a tantos corações adultos que se perguntam como seria reencontrar aquelas versões mais jovens de si mesmos. Seria como folhear um álbum de fotografias antigas, mas com a capacidade de tocar, sentir e reviver cada momento. Seríamos espectadores e atores de nossa própria história.
No entanto, há uma beleza melancólica nesse desejo. O tempo é o tecelão que molda nossa jornada, entrelaçando experiências, aprendizados e desafios. A saudade da infância não é apenas uma ânsia pelo que foi, mas também uma celebração do que somos agora, moldados por todas as etapas que trilhamos.
Imagine por um momento que pudéssemos voltar àquelas tardes douradas de brincadeiras e risos. O que diríamos ao nosso eu mais jovem? Que a vida nem sempre é um conto de fadas, mas que cada obstáculo nos fortalece? Que as amizades verdadeiras resistem ao teste do tempo? Que os sonhos que tínhamos então continuam a pulsar dentro de nós, esperando ser realizados?
A verdade é que, embora não possamos retroceder fisicamente no tempo, podemos manter viva a essência daquela criança que fomos. Podemos nos permitir olhar o mundo com olhos curiosos e corações abertos, como costumávamos fazer. Podemos cultivar amizades com a mesma pureza e dedicação que tínhamos então. E, acima de tudo, podemos abraçar nossos sonhos com a convicção de que nunca é tarde demais para persegui-los.
Que saudade da minha infância! E se a gente pudesse voltar no tempo? Talvez não possamos viajar de volta, mas certamente podemos levar conosco tudo o que vivemos, para moldar o que ainda virá. O tear do tempo continua a tecer nossa história, e somos os artesãos que decidem como esses fios serão entrelaçados no magnífico tecido da vida.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri