O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, afirmou nesta terça-feira (15) que, até o momento, evidências apuradas pelo órgão indicam que uma variação de frequência na rede elétrica do Ceará pode ter levado ao apagão em 25 estados e no Distrito Federal.
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“Na região do Ceará, as evidências, as nossas avaliações, dados e telemetria mostram que, naquela região, por volta das 8h30, houve uma variação de frequência descontrolada e não esperada. Isso nos leva a acreditar que ali possa estar contida nessa região elétrica a causa principal ou a casa raiz de todos os fenômenos que vieram a ocorrer”, declarou à TV Globo.
Segundo ele, a variação de frequência se refere a uma espécie de perturbação ocorrida entre a geração de energia e a carga. Normalmente, o valor deve ficar próximo a 60 Hz. Mas o índice não foi verificado nesta terça.
A perturbação ocorrida no estado, de acordo com o diretor, pode ter afetado gradativamente uma série de componentes do Sistema Interligado Nacional (SIN).
“Quando você tem uma perturbação dessa de frequência, você normalmente tem uma série de componentes que podem estar agindo no sentido de provocar essa variação brusca e inesperada de frequência”, afirmou Ciocchi.
“E, nesse sistema de transmissão, onde tem várias linhas de transmissão e subestações, que estão interligando consumidores e geradores, para que essa perturbação seja propagada, e vai afetando, gradativamente, outros componentes, ampliando essa região elétrica”, completou.
O diretor-geral do ONS afirmou que, por ora, essa é a evidência encontrada pelo órgão para explicar a interrupção de fornecimento de energia elétrica no país. Ele não indicou qual teria sido a razão para a variação de frequência na área.
Mais cedo, o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) sinalizou que outro evento, além do identificado no Ceará, pode ter provocado o apagão.
“Um dos eventos já apontados pelo ONS aconteceu no norte do Nordeste, mais precisamente na região do Ceará. O outro evento possível ainda não está detectado pelo ONS”, disse.
De acordo com Ciocchi, ainda não é possível afirmar qual outro distúrbio influenciou na queda de distribuição em todo país.
“Por enquanto, a evidência é essa. Outras causas serão avaliadas oportunamente. Estamos trabalhando para identificar possíveis áreas ou perturbações. Não temos essa indicação de que essa segunda causa esteja circunscrita à mesma região elétrica. Pode ser. Ou não, pode estar em outra região que estava promovendo essas perturbações”, explicou o diretor do ONS.
Sistema de alívio de carga
A perturbação “inesperada” na região elétrica do Ceará levou a um efeito-cascata no sistema interligado, o que afetou também as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
De forma automática, os agentes responsáveis pela transmissão nessas regiões acionaram o Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC). A medida já é planejada pelas operadoras do sistema e serve para impedir que as perturbações se propaguem.
Segundo o representante do órgão responsável pela coordenação e controle do sistema elétrico brasileiro, o ERAC entrou em operação somente nessa região do país.
Ciocchi explicou que, ao acionar o ERAC, a carga elétrica é minimizada gradativamente, de forma a aliviar o sistema, para a sua preservação.
“O sistema detecta, aciona o ERAC que tem vários estágios. Nesses estágios, você vai tirando carga, aliviando o sistema, para que ele possa ser preservado. E foi exatamente isso que aconteceu. O corte de carga no Sul e Sudeste foi controlado e recuperado rapidamente.”
O diretor avaliou que, graças à atuação do sistema, foi possível retomar, de forma mais rápida, o fornecimento de energia nessas áreas.
“Sul, Sudeste e Centro-Oeste foi a atuação de um Esquema Regional de Alívio de Carga. Ele percebe uma perturbação chegando muito grande, percebe que aquilo pode se propagar. Então, você faz um corte de carga preventivo, para que a situação não seja propagada para toda aquela região”, explicou.
“É você procurar, de uma forma técnica, controlar essa perturbação que estava vindo de fora. Ela é controlada, específica e planejada. Tanto é que, a partir da atuação do ERAC, a recomposição das cargas do Sul, Sudeste e Centro-Oeste foi feita muito rapidamente. Porque esse é um procedimento absolutamente padrão e normal”, completou.
De acordo com o diretor do ONS, é preciso, porém, explicar por qual motivo o ERAC não foi acionado no Norte e Nordeste do país, localidades mais afetadas pelo apagão.
‘Causa raiz’
Em coletiva à imprensa, Alexandre Silveira afirmou que o ONS apresentará relatório, em até 48 horas, para apontar os motivos que levaram à interrupção no fornecimento de energia do país.
Ciocchi declarou que, embora o documento tenha importância, não será capaz de cravar quais foram as causas da perturbação no sistema elétrico nacional. Segundo ele, o parecer deve abordar somente as “evidências mais fortes”.
“Em 48 horas, é o nosso compromisso de trazer para a sociedade quais são as evidências mais fortes, no sentido de identificar, de forma mais próxima, a origem desse problema. Normalmente, essas falhas de grande monta, como a que foi hoje, são causadas por uma sequência de eventos técnicos, de mal funcionamentos de vários componentes, para que tenha essa situação significativamente forte e pesada”, disse.
O parecer, segundo Ciocchi, dará “bastante subsídio” para identificar a região do distúrbio no sistema elétrico. Ele também avaliou que o documento poderá ajudar a entender o que ocorreu e medidas que podem ser adotadas para prevenir novas ocorrências.
Para descobrir exatamente o que ocorreu nesta terça, o diretor do ONS afirmou que será preciso produzir o chamado Relatório de Análise de Perturbação (RAP). Ele não sinalizou quanto tempo levará para divulgar o documento.
Com coordenação do Operador Nacional do Sistema Elétrico, o RAP é desenvolvido em parceria com todos os agentes envolvidos na região elétrica em que a perturbação foi identificada, como as empresas de geração e distribuição e fabricantes de componentes, por exemplo.
“É complexo. Não é feito única e exclusivamente pelo ONS. Você envolve todas as empresas e os agentes que estão naquela área. O que aconteceu pode ser uma falha num dispositivo, num transformador…Enfim, em vários componentes de um sistema elétrico como o nosso”, explicou Carlos Ciocchi.
Fonte: g1