Parece que o mundo, amigos, virou de bunda canastra, já perceberam? Será que tanta gente odienta existia nas entocas e botou a cabeça de fora, sob os holofotes aparentemente anônimos das redes sociais? Há terraplanistas jurando que a Terra é um pires e que nem têm medo de sair de barco e cair pelas beiradas. Há intolerantes de todo tipo e, pior, sem nenhuma vergonha de sua condição: homotransfóbicos, fascistas, nazistas, feminicidas, racistas, armamentistas e até escravagistas convictos e sem pejo como alguns vinicultores gaúchos. Ultimamente, para completar, surgiram movimentos profundamente machistas de várias denominações como Red Pill (nome em inglês arrancado do filme de ficção científica Matrix) que prega o amansamento de sexo feminino para torná-lo submisso e obediente, com isso recuperando a virilidade masculina ameaçada; o INCEL , dos celibatários involuntários que culpam as mulheres por não conseguirem ter relações sexuais e endossam a violência contra elas e contra a comunidade LGBTQI+ ; e o MGTOW (em versão portuguesa, homens seguindo seu próprio caminho) que preconizam a luta contra o feminismo que tornou, segundo eles, as mulheres perigosas. Para esses grupos, profundamente misóginos, se você controla o gênero (palavra que eles odeiam), você controla o poder. A mulher, assim, no entender desses abestados é apenas um mero objeto de uso, como uma boneca inflável, ou uma vagina ambulante. Alguns defendem o relacionamento apenas com prostitutas, evitando qualquer perigoso envolvimento emocional. Muitos dos cabeças destes grupos são influenciadores digitais com milhares de seguidores e outros tantos são Coachs e vivem disseminando lições de ódio entre outros destrambelhados, como se se tratasse de uma guerra santa.
Não é difícil descobrir o perfil desses porra-loucas. São os mesmos que defendem as ditaduras, a pena de morte, as fakenews, armar a população, fazer o apartheid de negros, sionistas, homossexuais. Irritam-se com os movimentos feministas que lutam por condições mínimas de sobrevivência da mulher em meio a uma sociedade profundamente machista.
A eles não interessam as evidências da tragédia: no Brasil uma mulher estuprada a cada dez minutos e a cada sete horas uma é assassinada. 70% dos estupros envolvem crianças e vulneráveis. O desemprego no sexo feminino é 54% maior que entre os homens. O abandono escolar é bem superior entre as mulheres. Lembrar que a elas só foi concedido o direito de votar em 1932, ou seja mais de cem anos depois do pessoal de barba e bigode.
Dados estatísticos não interessam aos brucutus, como fanáticos, colocam uma viseira e só conseguem olhar numa direção. Pousam como únicos salvadores da moralidade e dos bons costumes. Como os palermas dos acampamentos ficam esperando a chegada dos ET´s para libertar o planeta e rezam para pneus incendiados: o milagroso deus Goodyear. Têm todos teorias estapafúrdias e conspiratórias e acreditam piamente em qualquer notícia mais inverossímil que seja, desde que tenha chegado no grupo fechado do Whatsapp que reúne obstusos como eles.
Temia-se, um dia, que os avanços da Ciência terminariam por trazer a destruição do planeta. Pelo jeito serão os paspalhos que afundarão a Terra num pântano de idiotice e obscurantismo. O criador precisa retornar e, num novo Gênesis, mandar, novamente, que se faça a luz.
Por J. Flávio Vieira, médico e escritor. Membro do Instituto Cultural do Cariri (ICC)
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri