Hoje em dia com a grande variedade de escolhas de estilos de vida e a influência cada vez maior da tecnologia em comparar e fazer das nossas atividades cotidianas práticas como se fossem processamento de dados, muitas pessoas tem o poder de escolha de onde gostariam de trabalhar, viver e passar as horas livres sem se preocupar com a distância, trajeto e tempo gasto. O esforço tornou-se reduzido e a comodidade tornou-se maior na realização de tarefas cotidianas pela automatização destas evitando a dependência/necessidade do contato social.
A crescente aparição e disponibilização de serviços de entrega (como compras de supermercado e refeições de restaurantes), são uma das várias comodidades disponíveis no mercado e que muitos aderem. Até mesmo automóveis com navegação automática (self-drive) são convenientes ao usuário por economizar o tempo e a atenção, no qual o computador decide a maioria das ações pelo passageiro e este pode desfrutar de alguma outra atividade (como assistir) enquanto desloca-se até o destino final.
A evolução da sociedade cada vez mais independente e que gera indivíduos que buscam seu próprio autointeresse, são guiados a comprar moradias distantes do centro da cidade a fim de desfrutar de uma “boa” qualidade de vida. A casa grande no subúrbio oferece uma vida tranquila longe da “loucura” da cidade. Esse é um padrão de vida que influencia e torna-se dominante aqui no Vale do Silício. Na minha opinião a idéia de que quanto mais distante do centro, melhor, os habitantes sofrem pela influência do urbanismo e do mercado implantados (especulação imobiliária) no qual a concentração de empresas da área da tecnologia provocam a valorização das áreas e impõem o alto custo de vida.
O urbanismo convencional manifesta-se aqui com o uso do solo onde o planejamento e implantação dos empreendimentos de baixa densidade são “jogados” em áreas distantes sempre intercalados por grandes vazios urbanos e o acesso estabelecido dá-se por meio de sistemas de grandes rodovias, em muitos casos. O triste é que as pessoas habituam-se a essa rotina de cruzar longas distâncias sem interação alguma com a paisagem.
O estilo de vida estabelecido a muito tempo atrás e conhecido como o “sonho norte-americano” é ter a posse de uma grande área nos subúrbios juntamente com a “facilidade” de ser ter automóveis cada vez mais espaçosos para cada membro da família. A indústria da criação de rodovias que consomem bilhões em novas construções e na sua própria manutenção, alimenta esse padrão de vida agressivo ao meio ambiente e aos habitantes.
Esse urbanismo disperso demanda grandes extensões de coberturas impermeáveis ocupadas por estradas e também estacionamentos ao ar livre (ao invés de serem no interior das edificações). Já nas residências o espaço em excesso faz dos moradores verdadeiros acumuladores pela compulsão da compra de bens muitas vezes sem necessidade. O urbanismo disperso presente aqui infelizmente nos faz reféns do automóvel e estimula a diminuição do contato humano com o entorno. Isso afeta a saúde, diminui a percepção do espaço e as chances de socialização que normalmente se teriam ao realizar deslocamentos diários a pé e que são oferecidos em áreas mais densas que fazem uso misto do solo.
Ainda se vende a ideia de que bom mesmo é ter a facilidade e poder de compra, uma casa grande com quartos em excesso e as avenidas largas são sinais de desenvolvimento. Será mesmo que essa realidade é a melhor para nós e para o crescimento saudável da cidade?
Por Gabriela Gomes. Apaixonada pela Arquitetura e o Urbanismo. Acredita em uma arquitetura participativa como uma ferramenta capaz de provocar mudanças e promover a inclusão social. Por um Urbanismo sustentável e inteligente. Juazeirense, reside atualmente em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri