O ex-líder do PSL Delegado Waldir (GO) vê “indícios de novas condutas criminosas” no áudio divulgado de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), negociando cargos no Congresso Nacional.
— Acho que em nenhum momento a rachadinha parou, e a decisão do Supremo Tribunal Federal previamente acordada foi equivocada — diz, se referindo à suspensão da investigação do caso Queiroz imposta pelo STF.
— (O áudio) mostra que Queiroz continua operacionalizando, mostra indícios de novas condutas criminosas no Senado. Uma das propostas do nosso governo era o combate à corrupção. Ao fingir que a corrupção não ocorre, é visível que ele (Bolsonaro) se afastou das propostas de campanha, e nossa ala (do PSL) não aceita isso, ao contrário da ala bolsonarista.
O Globo obteve um áudio de WhatsApp, de junho deste ano, no qual o ex-assessor sugere a um interlocutor como proceder para fazer indicações políticas em gabinetes de parlamentares.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do partido no Senado, disse que o áudio mostra que a influência de Queiroz não se restringiu à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, mas atingiu também o âmbito federal.
– É muito grave, ele indica que a influência do senhor Queiroz, ao contrário do que tinha sido negado pela família Bolsonaro, continua ocorrendo nos altos escalões do governo. Indica que a influencia dele não se restringiu à Assembleia Legislativa do Rio da Janeiro, é uma influência que esta estendida no âmbito federal, na família do presidente e pelo que tudo indica na Câmara e o no Senado – disse o senador.
O líder da Rede afirmou que está considerando apresentar uma representação na Procuradoria-Geral da República para que o órgão se manifeste sobre o áudio divulgado nesta quinta-feira. O senador disse também não descartar apresentar um pedido para convocar Fabrício Queiroz na CPI das Fake News.
No fim de 2018, o Coaf apontou “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão, em 2016 e 2017, nas contas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio. Oito assessores do ex-deputado estadual transferiram recursos a Queiroz em datas próximas ao pagamento de servidores da Alerj. Segundo o Coaf, Flávio recebeu 48 depósitos no valor de R$ 2 mil. (Leia mais)
Após faltar a quatro depoimentos ao MP, alegando problemas de saúde, Queiroz afirmou, em dezembro, que a “movimentação atípica” revelada pelo Coaf teve origem na compra e venda de veículos. Em janeiro, Flávio Bolsonaro também não prestou depoimento, argumentando que iria marcar uma nova data após ter acesso ao caso. (Leia mais)
Em janeiro, no recesso do STF, o ministro Luiz Fux suspendeu as investigações temporariamente, a pedido de Flávio. Em fevereiro, Marco Aurélio revogou a decisão e autorizou o MPRJ a continuar com a apuração. Flávio havia pedido a transferência do caso para o STF e a anulação de provas. (Leia mais)
Em entrevista coletiva, o procurador-geral de Justiça do Rio, Eduardo Gussem, afirmou que Flávio Bolsonaro e os outros 26 deputados estaduais com assessores citados em relatório do Coaf são alvo de investigações na área cível. (Leia mais)
Em março, Queiroz admitiu, em depoimento, que os valores recebidos por servidores do gabinete eram usados para “multiplicar a base eleitoral” de Flávio. Um ex-funcionário afirmou que repassava quase 60% do salário. O MP não encontrou evidências de que o fluxo bancário de Queiroz teve origem no comércio de carros. (Leia mais)
A pedido do MP, o Tribunal de Justiça do Rio autorizou, em abril, a quebra de sigilo bancário de Flávio e de Queiroz para o período de janeiro de 2007 a dezembro de 2018. A medida se estende a seus respectivos familiares e a outros 88 ex-funcionários do gabinete do ex-deputado estadual, seus familiares e empresas relacionadas a eles. (Leia mais)
Em fevereiro, Queiroz pagou em espécie R$ 64,58 mil por uma cirurgia ao hospital israelita Albert Einstein , em São Paulo. Ele foi internado na unidade em janeiro, quando retirou um câncer no cólon. Desde que recebeu alta, nunca se soube o valor das despesas pagas pelo procedimento. (Leia mais)
Em 20 de junho, a Justiça do Rio decidiu suspender a quebra de sigilo da empresa MCA Participação e Exportações e de um de seus sócios, Marcelo Cattaneo Adorno. Ambos integravam a lista dos 95 alvos da investigação do Caso Queiroz. (Leia mais)
Em 26 de junho, o desembargador Antônio Carlos Nascimento Amado, do Tribunal de Justiça do Rio, negou pedido de Flávio para suspender a quebra de sigilo feita a pedido do MP-RJ. (Leia mais)
Em 28 de junho, a 27ª Vara Criminal do Rio autorizou a quebra dos sigilos de mais oito pessoas ligadas ao antigo gabinete de Flávio. A decisão ocorreu dois meses após a quebra dos silgilos de outras 86 pessoas e nove empresas ligadas ao antigo gabinete do filho do presidente. (Leia mais)
Em 16 de julho, o ministro Dias Toffoli, do STF, suspendeu processos judiciais em que dados bancários de investigados tenham sido compartilhados por órgãos de controle sem autorização da Justiça. Trata-se de resposta a um pedido de Flávio que pode beneficiá-lo no Caso Queiroz. (Leia mais)
O deputado Tadeu Alencar (PSB-PE), líder do partido na Câmara, pregou equilíbrio. Segundo ele, é preciso ter cuidado quando a autenticidade da gravação e verificar se Queiroz falava em nome de alguém.
“Nessas questões há de se ter equilíbrio: nem ser leviano, nem subestimar. No caso, acho que dois cuidados são essenciais: um, a autenticidade da gravação e dois, se de fato ele fala em nome de alguém que proveria o cargo em troca de suposta vantagem pecuniária”, disse em mensagem.
Alencar ainda ressaltou os “laços funcionais” de Queiroz e disse acreditar que o áudio deve ser considerado na investigação da qual o ex- assessor do senador Flávio Bolsonaro é alvo.
“De todo modo, dada a proximidade histórica e de laços funcionais do Queiroz e o que está sob investigação – desvio de finalidade do salário de servidores – creio ser matéria a ser considerada na apuração em curso”
Fonte: O Globo