Apesar de ter liberado R$ 21,4 milhões para normalização da Operação Carro-Pipa, o governo federal não enviou o dinheiro para a continuidade do programa. Em razão disso, 259 cidades do Nordeste aguardam recursos para continuidade do abastecimento, temporariamente suspenso em 57 municípios da região.
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O programa foi implementado há mais de 20 anos por meio de cooperação técnica e financeira entre os ministérios do Desenvolvimento Regional (MDR) e da Defesa. A operação, de caráter emergencial, é feita pelo Exército em parceria com pipeiros particulares e atende 461 cidades afetadas pela seca no Nordeste e no Norte de Minas Gerais com oferta de água potável à população.
No dia 24 de novembro, o governo federal publicou portaria que abre crédito suplementar em favor do MDR em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). A verba seria usada para normalização da operação, que seria retomada na semana seguinte, segundo a pasta.
Contudo, dados atualizados até este sábado (10) indicavam que 56,1% dos municípios beneficiados com a operação ainda estavam ao aguardo de recursos. Os municípios que estavam com suspensão no serviço somavam 12,3% do total.
Um ofício do Comando da 10ª Região Militar, datado do último 1º de dezembro e de caráter “urgentíssimo”, apontou que o planejamento de entrega de água de dezembro tem limite de distribuição do recurso até a próxima sexta-feira (16). Depois dessa data, a água só pode ser entregue se houver novo envio de planilhas.
O ex-presidente do Sindicato dos Pipeiros do Ceará, Eduardo Aragão, ressaltou que os trabalhadores não recebem verbas desde outubro. Os repasses liberados eram suficientes para abastecer algumas cidades até o dia 15 de novembro, enquanto outras puderam ter aporte suficiente para o serviço até o dia 26 de novembro.
O Ceará, apontou, conseguiu fazer manutenção da operação durante o último mês inteiro. No entanto, caso o estado não obtenha a verba, cerca de 150 mil cearenses devem deixar de ser abastecidos com água potável, própria para consumo, estimou o representante dos pipeiros.
Uso de recursos
Conforme Eduardo Aragão, as verbas liberadas pelo governo federal são direcionadas aos pipeiros, que arcam com boa parte das atividades relacionadas à distribuição da água.
O dinheiro é usado para cobrir as despesas de mão de obra, captação da água, manutenção dos veículos e dos postos de coleta do insumo. A administração federal é responsável pelo repasse de recursos e por traçar rotas de trabalho, considerando as localidades a ser beneficiadas.
“Por isso que, às vezes, fica difícil manter atrasado, porque a gente paga tudo, captação da água, manutenção do caminhão”, disse o dirigente sindical. “O que tem certo é até dia 16 de dezembro. De 16 em diante, nada certo.”
O ex-presidente do sindicato incluiu, ainda, ter recebido informações de que, além de não haver recurso para depois de tal data, a escassez de valores deve permanecer pelos primeiros 15 dias de 2023. O motivo, ponderou, é pela mudança de gestão no governo federal.
A reportagem questionou o MDR sobre quando haverá o repasse dos recursos já liberados na portaria, qual o motivo de o dinheiro não ter sido enviado aos pipeiros, quantas pessoas ao todo podem ser impactadas pelo problema e que medidas a pasta busca realizar para garantir a oferta de água na transição de governo. A reportagem não recebeu retorno até a última atualização.
Operação Carro-Pipa no Ceará
O Ceará tem cinco cidades — Aiuaba, Arneiroz, Beberibe, Irauçuba e Quiterianópolis — com o abastecimento temporariamente suspenso. Embora a plataforma da operação não aponte população nessas localidades, a estimativa do Sindicato dos Pipeiros é de que 25 mil pessoas sejam afetadas pelo problema.
Por Marcelo Monteiro
Fonte: g1 CE