A compra de cloroquina por parte da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante o auge da pandemia da Covid-19 e os contratos de vacina assinados pelo governo que termina no final de dezembro serão alvos de um exame por parte do novo governo brasileiro, a partir de 2023. As informações são do colunista Jamil Chade, do UOL.
Curta, siga e se inscreva nas nossas redes sociais:
• Facebook
• Twitter
• YouTube
Sugira uma reportagem. Mande uma mensagem para o nosso WhatsApp.
Entre no canal do Revista Cariri no Telegram e veja as principais notícias do dia.
Fontes da equipe de transição no setor de saúde confirmaram ao UOL que existe a intenção de que, uma vez no poder, a nova administração busque esclarecimentos sobre as motivações por parte dessas compras que, no caso da cloroquina, iam contra as orientações de cientistas e da própria OMS.
Mas, segundo membros da equipe de transição, o trabalho irá bem além da retirada dos sigilos de documentos confidenciais ou telegramas sigilosos da diplomacia. No Ministério da Saúde, o objetivo da análise é a de saber qual foi a cadeia de comando na tomada de decisões, de onde vieram as orientações e como foi o processo de consultas com equipe técnica e científica.
Para fontes da equipe de transição, a CPI da Covid-19 fez um trabalho importante no sentido de tentar entender como foram feitas as compras de vacinas e da cloroquina, assim como foi estabelecido o uso da máquina pública para que tais ações ocorressem.
Mas a avaliação é de que o processo não pode apenas terminar com o relatório da CPI e que as conclusões agora devem ser aprofundadas com novas apurações.
Em meados de 2020, a OMS já tinha suspendido as pesquisas sobre a suposta eficácia da cloroquina, depois de um esforço que envolveu dezenas de hospitais por todo o mundo.
Mesmo assim, semanas depois, o Ministério das Relações Exteriores anunciou que o governo dos Estados Unidos entregou ao Brasil 2 milhões de doses de hidroxicloroquina, “como demonstração da solidariedade” entre os dois países na luta contra o coronavírus.
“A HCQ [hidroxicloroquina] será usada como profilático para ajudar a defender enfermeiros, médicos e profissionais de saúde do Brasil contra o vírus. Ela também será utilizada no tratamento de brasileiros infectados”, dizia a nota naquele momento.
Arthur Weintraub, sugeriu que um tribunal de Nuremberg fosse estabelecido contra as pessoas que se recusaram a receitar o remédio.
Pouco depois de exportar 2 milhões de doses ao Brasil, as autoridades americanas anunciaram a decisão de revogar “a autorização de uso emergencial que permitia que o fosfato de cloroquina e o sulfato de hidroxicloroquina fossem utilizados para tratar certos pacientes hospitalizados com Covid-19” fora de testes clínicos.
Dentro do Itamaraty, a venda ao Brasil e a suspensão nos EUA foram ironizadas por diplomatas e consideradas como um gesto suspeito por parte daqueles atores dentro do governo que insistiam na relação entre os aliados de Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Enquanto o Brasil comprava o remédio americano, o Food and Drug Administration (FDA), dos EUA, determinava “que os critérios legais para a emissão de uma autorização para uso emergencial não são mais atendidos” no caso da cloroquina. A FDA é uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.
“Com base na sua análise contínua e dados científicos emergentes, o FDA determinou que a cloroquina e a hidroxicloroquina têm pouca probabilidade de serem eficazes no tratamento da Covid-19 para os usos autorizados nos EUA”, afirmaram as autoridades americanas.
“Além disso, à luz de eventos cardíacos graves em andamento e outros potenciais efeitos colaterais graves, os benefícios conhecidos e potenciais da cloroquina e da hidroxicloroquina já não compensam os riscos conhecidos e potenciais para o uso autorizado”, indicaram.
No caso americano, o governo insistiu que suas decisões estavam baseadas na ciência. “Deixamos claro em toda a emergência de saúde pública que nossas ações serão orientadas pela ciência e que nossas decisões podem evoluir à medida que aprendermos mais sobre o vírus SARS-CoV-2, revisarmos os dados mais recentes e considerarmos o equilíbrio entre riscos e benefícios dos tratamentos para a Covid-19”, disse Anand Shah, Comissário Adjunto para Assuntos Médicos e Científicos da FDA.