O Fórum Econômico Mundial vai convidar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para seu evento anual, que ocorre em janeiro na estação de esqui de Davos, na Suíça. O objetivo é dar ao novo presidente um palco central para que apresente ao mundo seu projeto de governo e de política externa. Se aceitar, o brasileiro corre o risco de ser alçado a uma das principais estrelas do evento de 2023. As informações são do colunista Jamil Chade, do UOL.
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Em conversa com a reportagem do UOL, a mais alta cúpula do Fórum confirmou que o convite será feito nos próximos dias. Havia um temor de que, se não reconhecesse sua derrota, o presidente Jair Bolsonaro jogaria o país numa crise política. Mas, segundo Davos, o discurso de terça-feira, ainda que breve, abriu a porta para uma transição.
“Tudo indica que não vamos repetir o cenário de Trump”, disse um dos organizadores de um dos principais eventos do mundo, numa referência à recusa do ex-presidente americano de admitir a derrota e criar uma crise nos EUA.
O convite de Davos é o segundo por parte de uma cúpula internacional, antes mesmo de Lula assumir o governo. Nesta semana, o UOL revelou que o governo do Egito e anfitrião da Cúpula da ONU para o Clima também pediu que o brasileiro compareça à reunião em duas semanas no país árabe.
Em janeiro, a esperança dos arautos do capitalismo mundial é o de ouvir de Lula seus planos para a economia, meio ambiente e para fortalecer as instituições internacionais, combalidas e questionadas.
Em 2003, depois de uma forte volatilidade nos mercados financeiros diante da eleição, o então recém empossado Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido na estação de esqui num clima de desconfiança e curiosidade.
Naquele momento, os mercados temiam um governo que pudesse se afastar do mundo financeiro. Mas, em seu primeiro discurso, Lula propôs diálogo, garantiu que não atacaria o capitalismo e moderou seu discurso.
Funcionários de Davos que estiveram naquele evento há 20 anos lembram que os comentários foram de alívio.
Em sua estreia, Lula disse o que a elite das finanças mundiais queriam ouvir: faria “reformas econômicas, sociais e políticas muito profundas, respeitando contratos e assegurando o equilíbrio econômico”. Ele não deixou de mandar um recado. “Aqui, em Davos, convencionou-se dizer que hoje existe um único Deus: o mercado. Mas a liberdade de mercado pressupõe, antes de tudo, a liberdade e a segurança dos cidadãos”, disse.
Mas, naquele momento, o discurso foi interpretado como um sinal claro de que não haveria expropriações, nem um confronto com multinacionais e muito menos um questionamento do sistema financeiro.
Lula ainda fez um gesto inédito: participou num espaço de poucos dias do Fórum Social de Porto Alegre e de seu contraponto, na Suíça. Aos ativistas do Sul, prometeu que levaria sua agenda social aos “donos do capital”.
CEOs de grandes bancos, como o Citibank, elogiaram o discurso em 2003 e o gesto do então presidente. Bono, vocalista da banca U2, chegou a dizer que Lula havia transformado Davos e colocado a agenda social no evento.
Entre alguns de seus apoiadores, porém, houve uma certa resistência. Já o ex-presidente de Portugal, Mario Soares, chegou a dizer que o evento suíço não tinha motivo para continuar existindo. “Este Fórum existe há mais de 30 anos e está esgotado”, disse.
Em 2010, Lula recebeu o prêmio de estadista do ano, concedido pelo Fórum. Mas não compareceu para receber o prêmio. Anos depois, acusaria Davos de não ter feito sua parte para evitar a crise mundial.
Os eternos 6 minutos de Bolsonaro em Davos
Em Davos, porém, todos se lembram como Bolsonaro, em janeiro de 2019, deixou muitos em choque ao fazer um discurso no principal palco do Fórum de meros 6 minutos. Naquele momento, com Paulo Guedes e Sergio Moro, a delegação brasileira atuou nos bastidores e em reuniões fechadas para tentar mostrar que o então recém-empossado presidente traria uma gestão “profissional”.
Mas, com a presença de Bolsonaro, as reuniões e encontros se transformaram em episódios pouco comuns na diplomacia mundial.
Num dos encontros, com o então primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, o brasileiro soltou uma piada inconveniente. Depois de alguns segundos de silêncio e da interpretação dos tradutores, Abe riu. Para o alívio de todos os que estavam na sala.
Naquele mesmo encontro, Bolsonaro ainda tentou demonstrar que era “popular” e optou por almoçar num bandejão. Apenas não revelou que, de fato, estava hospedado em um dos hotéis mais caros da cidade.
Ele ainda foi pego por uma câmera que gravou um diálogo seu constrangedor entre Al Gore, ex-presidente dos EUA, e o brasileiro, sobre a Amazônia. Bolsonaro ainda deixou a imprensa estrangeira irritada ao não aparecer para uma coletiva de imprensa que havia convocado.
Num encontro ainda com CEOs de todo o mundo, Bolsonaro e Guedes fizeram discursos. Mas o ministro da Economia teria de sair para outros encontros. Vendo que ficaria sozinho com os empresários, o presidente chamou o general Augusto Heleno para impedir, já na porta da sala, que Guedes o deixasse. O ministro voltou.
Num café da manhã da delegação de Bolsonaro e presenciada pelo colunista, em Davos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro questionou os demais integrantes da mesa se a palavra “bilionário” se escrevia com ou sem a letra agá.
Uma voz apenas respondeu: veja se aparece a linha vermelha do corretor.