Andy Warhol já profetizara, nos anos 60, que no futuro, todo mundo teria seus quinze minutos de fama. Falava sobre as celebridades instantâneas aquelas que, pelos novos tempos, surgem, brilham e, como estrelas cadentes, rapidamente desaparecem no espaço. Nem imaginava, certamente, o nosso pintor pop, que se fazia o Nostradamus de uma era tecnológica que estava pronta a eclodir, pouco depois do seu desaparecimento em 1987. A internet e, depois, as redes sociais, possibilitaram a aparição multiplicada dos famosos de quinze minutos. O mundo se tornou pequeno, a intimidade passou a ser um pecado irremediável e, hoje, não mais interessa a vida real, apenas aquela virtual que se mede, em importância, pela quantidade de likes e de visualizações. Os novos messias têm milhares de seguidores no espaço cibernético e se tornam influenciadores de uma manada de robôs que os seguem, religiosamente, como se tratassem de gurus. Antigamente, para se ter certeza que uma pessoa estava viva, se verificava os sinais vitais, hoje medem-se as curtidas e o número de seguidores. Ai do desgraçado que não tiver postado sua foto de viagem no Instagram, seu registro de uma festa badalada, uma beira de praia, a Torre Eiffel, a Estátua da Liberdade, o jantar no restaurante famoso. A felicidade deixou há muito de ser um adereço interno, hoje só vale, mesmo que postiça, se projetada para todo o mundo curtir e, principalmente, invejar.
Tom Jobim reclamava dos brasileiros que, ao contrário dos americanos do Norte, não gostavam dos seus heróis. Se alguém fizesse sucesso aqui era logo observado com olhar atravessado: só pode ter tramoia pelo meio! Aos poucos, no entanto, com o advento da panaceia eletrônica, parece que fomos, pouco a pouco, absorvendo o way of life dos gringos. E temos à brasileira uma visão muito pragmática do homem de sucesso. Aquele que amealhou uma quantidade expressiva de grana, que tem carros importados, que usa as roupas das mais finas grifes, que frequenta os ambientes mais requintados e faz as viagens mais mirabolantes. É a quantidade de dinheiro na conta bancária a trena que mede o sucesso de uma pessoa ou seu fracasso. E, percebo, já não interessa muito os meios utilizados para chegar no Shangri-lá. Até porque, no Brasil, o ilícito torna-se facilmente lícito desde que se pague o preço pela transformação. É só pagar a tabela. Quando perguntamos por amigos que não vemos há muito tempo, é frequente sermos informados que estão em outros locais, estabelecidos e, diga-se de passagem, estão muito bem. O bem, aí, não significa que se encontram em perfeita saúde, realizados nas suas atividades e profissões, com famílias equilibradas e felizes. O bem diz respeito basicamente ao seu plural: aos bens!
É claro que essa corrida desenfreada em busca da felicidade palpável e material tem seus muitos inconvenientes. Como em toda competição são poucos os que sobem ao pódio e muitos são os perdedores. E mais: faz parte intrínseca do meu suposto sucesso a derrota inevitável dos outros competidores. Ao nosso redor não temos amigos e companheiros, apenas concorrentes prontos a puxar o nosso tapete para cruzar a linha de chegada. Estaremos sempre sós na competição e, por melhor atleta que termine por me tornar, não se ganha sempre, um dia a casa há de ruir. Atrelando a ideia de felicidade apenas ao material, há de se entender que o tempo oxida o ferro, corrói as rochas, faz tombar as árvores mais frondosas. Quando isso ocorrer, a saída mais palatável não pela porta dos fundos?
Quem seria, afinal, o homem ou a mulher de sucesso? Se a conclusão for a que se tem hoje, que depende basicamente da riqueza que se pode acumular com o passar dos anos, podemos concluir que Francisco de Assis, Chico Xavier, Padre Júlio Lancelotti, Jesus Cristo, Dom Hélder Câmara, o Dalai Lama, Francisco I e Gandhi são ou foram uns frustrados e chefes dos cordões de infortúnios da humanidade. Os mais felizes serão encontrados, então, nas páginas da Revista Forbes. No fundo, tudo depende do que você, caro leitor, entende pelo que pode se considerar sucesso. É você que tem a balança e o metro para aferir. Cada um tem o direito sagrado de despender sua força, seu suor e seu tempo em busca daquilo que acredita lhe trará ventura e completude. Cada um dos caminhos, certamente, tem seus pedregulhos e seus abismos. Mas sempre me fica a sensação de que quanto mais minha busca seja por uma bem-aventurança que ultrapasse as fronteiras do meu quintal e possa se espraiar para outros viventes, ser compartilhada pessoalmente e não apenas pelo Facebook, maior será minha satisfação e meu júbilo e, multiplicada por outros corações e mentes, mais imune estará ao caruncho dos dias e ao bolor das horas.
Por J. Flávio Vieira, médico e escritor. Membro do Instituto Cultural do Cariri (ICC)
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