A história tem demonstrado uma falsa dicotomia entre movimentos sociais e filiação partidária. Essa apartação faz parte de um discurso ideológico disseminado pelas elites econômicas a partir de suas estruturas de poder e comunicação, o que incluir as ONGs de caridade, órgãos públicos, instituições religiosas e os mais diversos movimentos sociais de direita, entretanto, esse discurso também reverbera no seio das organizações de esquerda.
Na historiografia republicana brasileira, os comunistas, são provas incontestes desse discurso perverso da classe dominante. A disseminação do ódio, mentira e perseguição aos comunistas ocorre desde 1922, quando foi criado no Brasil, o Partido Comunista. Apresentados como terroristas, inimigos da família, anticristos e bagunceiros, dentre outros adjetivos, foi alicerçado o preconceito e a violência (mundialmente) contra os comunistas.
O que esconde esse discurso de aversão às organizações partidárias, em especial, aos comunistas? Afastar a influência política dos partidos nos movimentos sociais ligados à classe trabalhadora, criando uma falsa ideia de que movimentos sociais e os partidos políticos são questões distintas e antagônicas.
Os partidos políticos ligados à classe trabalhadora são uma constante ameaça aos interesses de dominação e manutenção do poder da classe dominante. Esse é o princípio que alimenta a o discurso anticomunista e de enfraquecimento das organizações de luta do proletariado.
Os partido políticos de esquerda tem uma historicidade de se organizar nos movimentos sociais que aglutinam a classe trabalhadora, como é o caso das associações de moradores, sindicatos, movimentos identitários, pontos de cultura, entidades juvenis e estudantis, com o propósito de contribuir para o processo de fortalecimento da luta pela emancipação humana e transformação social. Eis o que motiva a preocupação e o combate da classe dominante ao alinhamento dos movimentos sociais e aos partidos políticos.
O alinhamento entre movimentos sociais e partidos políticos incide diretamente na disputa dos espaços de poder. A representação parlamentar no Brasil tem evidenciado a distância entre as pautas dos movimentos sociais e a baixa representatividade dos seus representantes nos parlamentos e ao mesmo tempo aponta que hegemonicamente os eleitos são chancelados pelo poder do capital.
No Brasil recente, onde o discurso anticomunista volta a torna novamente, a fala antipartido ganha força, inclusive na esquerda de caráter identitária e liberal, mesmo sem perceber reproduzem um discurso que historicamente é professado pelo integralismo, a feição brasileira do fascismo no país. Foi o que ocorreu nas manifestações de 2013 que deu impulso ao golpe em 2016 e o movimento “Ele Não” em 2018, que mesmo com a sua importância no combate ao Bolsonarismo, demonstrou força o caráter discursivo do “movimento independente e pluripartidário”, em outras palavras, o antipartidarismo foi algo presente neste movimento.
Ideologicamente a elite econômica apresenta para a classe trabalhadora que ter partido é um atestado de crime. Entretanto, essa mesma elite fortalece os seus partidos e suas organizações de disputa de poder.
A classe dominante falseia inclusive as palavras para afastar o povo dos processos de organização e compreensão de relações de opressão e exploração. Política e político são apresentados por outro nome: cidadania e cidadão, não por acaso, é como se tratasse de outra coisa, é como querer separar a língua da boca. Constantemente somos bombardeados de ideias que subvertem a realidade e a verdade e isso não é natural.
Separar os movimentos sociais e os partidos políticos é favorecer a divisão da classe trabalhadora e contribuir com o processo de manutenção e o revezamento de poder das forças políticas que dão sustentação à ditadura do capital.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri