A dengue segue em disparada no Brasil e seu agente causador, o mosquito Aedes aegypti, também. De janeiro até abril de 2022, o país contabilizou mais de 500 mil casos da doença, quase o mesmo total das notificações de todo o ano de 2021, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
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A seguir, especialistas esclarecem as principais dúvidas sobre reconhecer, se precaver e o que fazer caso seja acometido por essa ameaça.
Dengue é doença do verão?
Mito. Pode se dizer que por aqui já foi. A dengue, embora muito comum no verão, que por ser quente, úmido e chuvoso favorece a multiplicação do Aedes aegypti, pode aparecer em outras estações também.
“No Brasil, de outubro a maio, principalmente nos meses de março, abril e maio”, informa Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Com o aquecimento global, a estimativa é que a doença se torne cada vez mais comum e se dissemine por regiões anteriormente mais frias e secas. No fim deste século, cerca de 89% da população mundial estará em risco, alertaram no ano passado, na revista The Lancet Planetary Health, pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, na Inglaterra.
Transmissão é só por picada?
Verdade parcial. Na esmagadora maioria das vezes, sim, a dengue é adquirida pela picada do mosquito. Porém, embora seja extremamente raro, a transmissão também pode ocorrer por meio de transplantes de órgãos e transfusão de sangue.
“Já o contato direto entre uma pessoa saudável com outra que esteja acometida pela doença não representa nenhum risco, como na covid-19, por exemplo”, explica Giovanna Sapienza, médica pelo Hospital Emílio Ribas e infectologista do Centro de Prevenção Meniá, em São Paulo.
Pode pegar zika e chikungunya junto com a dengue?
Sim. “O Aedes aegypti tanto pode adquirir como transmitir mais de um vírus e, pior, ao mesmo tempo, provocando três doenças diferentes —dengue, zika, chikungunya, por exemplo”, afirma Clarissa Cerqueira Ramos, infectologista do Hospital Cárdio Pulmonar, em Salvador (BA).
Segundo pesquisadores da Universidade do Colorado (EUA), que publicaram em 2017 na revista Nature Communications um estudo sobre o assunto, requer apenas uma picada para a tripla coinfecção ocorrer. Isso seria muito mais fácil em áreas de surto simultâneo.
Pela segunda vez é hemorrágica?
Não necessariamente. Infecções recorrentes podem ter apresentações mais graves, mas não é regra. Há quem possa ficar muito ruim numa primeira infecção e há quem possa nem precisar de internação numa reinfecção, garantem as infectologistas de Sírio-Libanês e Emílio Ribas.
Outro ponto a esclarecer, segundo Ramos, é que o termo “hemorrágica” está cada vez menos sendo utilizado, pois numa evolução pior não há somente hemorragias. Ela fala em “dengue grave”, que é quando o organismo, uma vez sensibilizado pela doença, numa eventual próxima vez produz mais anticorpos para combatê-la, causando, sem querer, um “ataque” a si mesmo.
Dengue é uma só, tudo igual?
Não. São quatro sorotipos do vírus da dengue, todos presentes no Brasil. Em geral, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, podendo provocar tanto a manifestação clássica da doença quanto a forma considerada grave.
A dengue clássica tem por sintomas febre alta e abrupta, dor de cabeça ou nos olhos, cansaço ou dores musculares e ósseas, falta de apetite, náuseas, tonteiras e erupções na pele. Dura de cinco a dez dias, mas o período de recuperação pode levar semanas.
Já a dengue grave, como o termo sugere, cursa com agravamento do quadro no terceiro ou quarto dia, com aparecimento de hemorragias, dor abdominal intensa e constante, fígado doloroso e palpável, queda de pressão arterial e choque, principal causa de morte.
Pode ser tratada em casa?
Sim. Com orientação prévia de um médico e retorno ao serviço de saúde, os sintomas da dengue podem ser tratados em casa com analgésicos e antitérmicos simples, além de repouso, hidratação oral com aumento de ingestão de água, chás, sucos e soro caseiro.
“Sendo mandatório evitar o uso de anti-inflamatórios não hormonais e derivados do AAS (ácido acetilsalicílico), por aumentar o risco de hemorragias”, adverte a infectologista Carla Kobayashi, continuando que no caso de dengue grave, requer internação hospitalar.
Existe vacina para a dengue?
Sim, uma, porém, assim como na forma grave da doença, a resposta imunológica gerada por essa vacina, que utiliza o vírus da dengue atenuado e cobre os quatro sorotipos, pode prejudicar o organismo, o que levou a restrições de uso. Para ser vacinada, a pessoa antes precisaria ser examinada, o que torna inviável economicamente sua aplicação em larga escala.
Da parte da ciência, os esforços em prol da população não param, mas ainda faltam no Brasil investimentos em saúde e educação, o que torna impossível precisar quando vacinas estarão disponíveis para a doença, restando como alternativa as medidas de combate aos mosquitos.
É uma doença recente?
Não. A dengue é conhecida nas regiões tropicais e subtropicais desde o começo do século passado. Há referências de epidemias de dengue em 1916, em São Paulo, e em 1923, em Niterói (RJ), porém, sem diagnóstico laboratorial. A primeira epidemia no país documentada cientificamente ocorreu em 1981-1982, em Boa Vista (RO), pelos sorotipos DENV-1 e DENV-4.
Seu mosquito é identificável?
Sim. O Aedes aegypti, que surgiu na África e de lá se espalhou para Ásia e Américas, principalmente com o tráfego marítimo, é reconhecido por ter as perninhas, o tronco e a cabeça listrados em preto e branco. Também voa baixo, possui asas translúcidas e hábito urbano e produz um ruído muito mais silencioso, em comparação com outros mosquitos.
Por utilizar o sangue humano para maturar seus ovos, a fêmea do mosquito é quem pica. “Mas não é todo mosquito que carrega, está infectado, pelo vírus da dengue”, informa Sapienza.
É possível controlá-la?
Sim, mas com muita conscientização. Em 1955, por exemplo, a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) promoveu uma grande campanha que levou à erradicação do Aedes aegypti no Brasil. No entanto, não se manteve e o mosquito, presente em países vizinhos, voltou a se espalhar por aqui.
Hoje, devido ao crescimento populacional, ocupação desordenada e descarte irregular e massivo de objetos, tais como plásticos, não se espera mais a eliminação completa da dengue. Mas, havendo cuidados por parte da sociedade e das autoridades, o que inclui monitorar de forma constante casas, terrenos baldios e imóveis abandonados (com focos de acúmulo de água parada e limpa), é possível considerar a diminuição e intensidade dos surtos epidêmicos.
Fonte: VivaBem/UOL