Uma geladeira bagunçada atrapalha a praticidade dentro da cozinha, mas ainda pode ser um risco para a saúde dos moradores. Além da exposição de alimentos frescos misturados a outros que já passaram do tempo de armazenamento —o que pode gerar compostos antinutricionais—, isso também pode aumentar o consumo de alimentos estragados.
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De acordo com Márcia Cristina Fialho, nutricionista da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), é possível organizar a geladeira de maneira simples, evitando a contaminação cruzada, que é quando os microrganismos de uma matéria-prima são levados para outra por problemas de armazenamento, mãos não higienizadas ou utilização de dois ou mais tipos de produtos em um mesmo utensílio.
“Podemos organizar a geladeira de forma simples, de modo que na parte mais baixa fiquem armazenados os alimentos crus, na parte do meio, os semiprontos crus e semiprontos, e na mais alta, os alimentos prontos”, diz.
Qual a temperatura?
Também é importante se atentar à temperatura da geladeira, que oscila dependendo do compartimento e pode comprometer a qualidade do produto, caso ele esteja armazenado no lugar errado. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determina como parâmetro que carnes refrigeradas e alimentos prontos devem ser guardados em temperatura até 5°C, sobremesas, massas, frios e laticínios, até 8°C, e hortifrutigranjeiros, no máximo, até 10°C, como explica Fialho.
No caso de armazenamento de alimentos pré-preparados (manipulados) ou preparados, as temperaturas a serem seguidas são de, no máximo, 4°C com tolerância de +1°C. “O atendimento ao limite de 4°C permite o armazenamento dos alimentos refrigerados por até cinco dias. Ao uso de 5°C como limite de tolerância, deve-se diminuir o tempo de armazenamento”.
Segundo a personal organizer Agnes Floriano, credenciada pela Anpop (Associação Nacional de Profissionais de Organização e Produtividade) em Santa Catarina, as diferenças na temperatura dentro da geladeira se explicam por conta das correntes de convecção térmicas, que se formam com a densidade do ar. “Quando o ar é quente, ele se expande e se torna menos denso que o ar frio. Dessa forma, o ar frio desce e o quente sobe, formando as correntes de convecção. Elas que definem as diferentes temperaturas dentro da geladeira. Quanto mais para a parte superior, mais frio. Quanto mais para baixo, mais quente”.
A importância da organização
Uma geladeira organizada evita não só o risco de doenças, mas também o desperdício de alimentos, como conta a personal organizer Carolina Lopes, credenciada pela Anpop no Rio Grande do Norte. “A geladeira não é armário, mas deve ser organizada. Assim, evitamos o desperdício de alimentos esquecidos ou mal acondicionados”.
Segundo ela, ter uma rotina de limpeza e organização da geladeira e dos alimentos contribui para uma vida mais saudável e menos contaminação por doenças. Outro motivo é que ajuda na hora de elaborar a lista de compras e também na praticidade do dia a dia. “Você não tem de ficar procurando as coisas, pois cada alimento, cada coisa, já terá o seu lugar dentro da geladeira”.
Segundo Lopes, a organização de uma geladeira começa com a separação de alimentos por categorias: frutas, verduras, legumes, frios, sobras, ovos, lanches, bebidas.
Onde guardar cada alimento
De acordo com as organizers, cada alimento tem um compartimento certo e a logística dentro da geladeira deve ser obedecida. “Há três pontos fundamentais para manter a organização, um deles é que todos da casa devem saber e entender a divisão da geladeira, onde deve ficar cada item para que possam devolver no lugar adequado”, diz Floriano.
Ainda de acordo com ela, a categorização e visualização de todos os itens também é importante para manter a organização. “Por este motivo, sugiro a utilização de potes transparentes, para que fique bem visível o que tem dentro e não fique esquecido. E a utilização de organizadores para facilitar a categorização e também a ordenação dos itens com validade próxima na frente e os com maior validade atrás. Potes no formato quadrado vão ajudar no melhor aproveitamento do espaço e, consequentemente, na organização”.
Prateleira superior: alimentos mais perecíveis, como laticínios, iogurte, queijos, manteiga, comidas prontas e carnes em processo de descongelamento devem ficar na parte superior, mais próxima ao congelador, pois necessitam de maior refrigeração. Ali também podem ficar sucos naturais sem conservantes.
Prateleiras do meio: são ideais para guardar frutas e saladas prontas para consumo, armazenadas em potes transparentes para facilitar a visualização dos alimentos. Também são indicadas para sobremesas, doces, gelatinas, salada de frutas e produtos enlatados (em um pote). Também vale colocar os ovos nessas prateleiras. Não coloque-os na porta, porque são alimentos delicados e precisam de temperatura estável.
Prateleiras inferiores: é o local ideal para armazenar frutas.
Gavetas inferiores: local menos frio da geladeira, as gavetas inferiores devem armazenar os itens mais sensíveis, como as folhas, evitando que sejam ‘queimadas’ pelo frio.
Porta da geladeira: é a que sofre maior oscilação de temperatura, por isso, o local ideal para armazenar alimentos menos perecíveis como conservas, vinagre, refrigerantes, água, sucos industrializados e molhos.
Congelador/freezer: por ser o local mais frio da geladeira, é ideal para armazenar industrializados, sorvetes, polpas de fruta, ervas, gelo, carnes vermelhas e brancas. Separe os itens ou defina um setor para cada tipo: os preparados (refeições congeladas, carnes ou legumes temperados) devem ser acondicionados em potes transparentes com sinalização do produto e validade (ou mês em que foi embalado). Evite excessos, pois compromete a visualização e, a depender da demora no consumo, haverá desperdício.
Vida útil dos produtos dentro da geladeira
Segundo a nutricionista Márcia Fialho, todo alimento tem um tempo de vida útil dentro da geladeira. O ideal é sempre verificar as orientações do fabricante referente à forma de conservação e de validade, após aberto de cada produto.
Alimentos de origem animal, como queijos e leite: têm vida curta dentro da geladeira. Os queijos, por exemplo, variam de três dias a um mês. Já o leite deve ser consumido em até três dias, no máximo.
Carnes cruas: sem preparo imediato, devem ser congeladas. O ideal é consumir em dois dias.
Alimentos preparados: consumir em, no máximo, 2 dias. “É muito importante, na etapa de planejamento, quantificar o que realmente será preparado e consumido para evitar sobras e o alimento ficar muito tempo na geladeira. Os alimentos preparados devem ser armazenados em recipientes bem fechados, e não em panelas onde foram preparados os mesmos”, diz Fialho.
Frutas, legumes e verduras: 5 dias, aproximadamente (podendo variar de alimento para alimento). “Aguentam mais tempo em geladeira e, por muitas vezes, podem ser armazenadas sem higienização, acondicionadas em sacos plásticos transparentes, guardados na gaveta na parte de baixo. Antes de consumir, devem ser higienizados. É recomendado a lavagem para retirada de areia e outras sujidades. A maioria das pessoas não realiza esse procedimento em casa, mas é uma recomendação geral”.
Produtos industrializados: consumir no mesmo dia de abertura da lata ou caixa. Não guardar aberto dentro da geladeira. Caso não tenha usado todo o produto, a recomendação é retirar da embalagem e armazenar em um recipiente bem fechado, de preferência de vidro ou plástico, e fixar uma etiqueta com a data de abertura e validade.
A geladeira deve passar por limpeza a cada 15 dias, para evitar contaminação e desperdício de alimentos. Alimentos mais perecíveis devem ser colocados em uma bolsa térmica enquanto a higienização da geladeira é feita e, a cada item retirado, é necessário analisar a data de validade e as condições do alimento.
“Os itens que não estiverem em condições de consumo devem ser eliminados. Vale ressaltar que não existe o chamado ‘chorinho’ para as datas de validade. O prazo deve ser respeitado. Se quem o produziu não garante a qualidade e segurança do produto após o vencimento, não devemos correr este risco”, alerta Floriano.
Ainda de acordo com a organizer, bananas, maçãs, melões, cebola, alho, tomates e batatas não devem ser armazenados na geladeira, porque precisam de ventilação.
Fontes consultadas: Agnes Floriano, personal organizer credenciada pela Anpop (Associação Nacional de Profissionais de Organização e Produtividade) em Santa Catarina; Carolina Lopes, personal organizer credenciada pela Anpop no Rio Grande do Norte; Edvânia Soares, nutricionista especialista em vigilância sanitária; Márcia Cristina Fialho, nutricionista da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e consultora do Programa Alimentos Seguros do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), em Recife (PE).
Fonte: VivaBem/UOL